Casos do destino...

O sujeito em sua tolice trapaceira, pensava em como enganar mais um idiota, seus truques sempre infalíveis só mostravam o quão vazio e imbecil ele era. Para seu azar seus caminhos se cruzaram com um Mensageiro, que achou que seria interessante dar uma lição àquele meliante.

Um Mensageiro nada mais é que um espírito iluminado que cuida de estimular boas almas, de dar lição àqueles cujo potencial para o bem está adormecido, era o caso de Túlio. Com seus 28 anos, colecionava falcatrua, era um criminoso de esquina, que vendo o que não funciona, que se aproveita da ingenuidade de um e outro, no fundo de si, tenta provar ao mundo que ele consegue burlar esta dita bondade que protege os seguidores da lei.

Nascido e criado em uma vila, sempre foi humilhado na escola que estudou que se localizava em um bairro de classe média. A simplicidade de suas coisas, sua cor, sua linguagem, tudo era motivo de exclusão, não cabia naquele ambiente, patinho feio era pouco. Sua inteligência garantia sua estada lá, ao contrario de seu comportamento. Saia da sala todos os dias, a diretora o chamava pelo nome, mas nutria profunda admiração pois já tinha notado o quanto ele era tratado com diferença até mesmo por alguns professores. Deu a ele a chance de fazer um curso de informática, e logo ele já trabalhava na área, mas se especializou em burlar travas de programas, jogos, e começou a ganhar dinheiro com aqueles boyzinhos, vendia algumas coisas que conseguia na vila, umas falsificações, seu lucro garantia a melhoria de algumas coisas em sua casa. Sua mãe, terceirizada de uma empresa de conservação trabalhava duro, ele a admirava imensamente, mas não via a força daquela mulher em nenhuma das vadiazinhas de sua escola. Sempre sentiu dentro de si uma luta: ser o orgulho de sua mãe ou fazer aqueles miseráveis pagarem por não lhe reconhecerem o valor. Pendeu para o lado mau, sua mãe confiava nele apesar daquilo tudo, pois em suas orações se derramava em lagrimas para que Deus o ensinasse a escolher melhor quem ele queria ser.

Hoje, ele mantinha ainda suas falsificações, trabalhava com alguns contrabandos de material eletrônico, mas o seu prazer era enganar transeuntes com jogos de azar, ou ilusões de óticas. Deleitava-se com a cara de: “vou ganhar um dinheiro fácil” que as ditas pessoas de bem se deixavam demonstrar. Era como testar o valor dos tolos.

Quando o Mensageiro fez o caminho de Túlio se encontrar com Marina, tudo mudou, ela era séria, centrada, trabalhava com grupos de excluídos e mantinha-se sempre tendo como alvo que a ética e o respeito eram a base de tudo. Notou que aquele rapaz enganava um senhor de idade, se sentiu obrigada a fazer algo, chamou o Sr de vovô e puxou pelo braço tirando-o da situação. O homem ficou indignado, pois de acordo com ele estava quase ganhando, ela explicou do que se tratava, mas foi xingada enquanto ele caminhava na direção oposta revoltado. Algumas pessoas sem entender ficaram olhando para ela como se fosse ela quem o tivesse enganado. Constrangeu-se, e indignada foi até o rapaz:

-Não se envergonha de enganar quem tem pouco com o que se manter? Vá trabalhar seu vagabundo!

Ele sorriu maliciosamente, a mocinha irritada, apesar de bonita, estava justiceira demais para o seu gosto. Puxou-a pelo braço e disse só para ela ouvir:

-Não estou roubando ninguém, eles vem por escolha, acha que pode escolher melhor do que eles o que devem fazer?

Ficou atônita, pois ele estava certo e ao mesmo tempo redondamente enganado:

-Oferecer algo mortal pode ser considerado um assassinato?

Ele a prensava ainda mais contra a parede... O Mensageiro, que observava tudo de perto sorria, pois os dois tinha lições a aprender, ela sobre crer se existe algo certo universal, e ele que suas ações serão cobradas. Ela estava sentindo um aperto no coração que não saberia dar nome. E ele, de certo modo se via desafiando uma moça sem motivos aparentes.

-Realmente, há pessoas incapazes de ver que seus atos são uma força motriz para que o mundo que se move por reação em cadeia se torne ainda pior...-virou as costas e foi caminhando decepcionada.

Ele a viu sumir lá longe, mas o peso de suas palavras permaneceu esmagando-o contra o chão. Foi para um bar digerir aquelas palavras. Pediu uma lata de cerveja, mal tomou um gole, amargava em seus lábios como fel. Talvez a demonstração de preocupação simples de uma moça o tenha afetado, talvez seja um valor que não pensou poder ser expresso por uma mulher assim, num dia comum. Jamais a veria novamente, pensou, mas algo dentro de si estava mexido.

No dia seguinte foi à escola que durante algum tempo fez um trabalho voluntario com os alunos na área de informática, sentiu vontade de ver a evolução daqueles por quem manteve algum vinculo de afeto e dedicou seu tempo. Chegando lá se deparou com, justamente, a moça do dia anterior. Se constrangeu, virou para ir embora sem se visto mas foi reconhecido por um dos garotos que logo gritou:

-Tulio, você voltou cara, vem ver o que estamos fazendo.

Ela se virou e assustou com a visão daquele rapaz. Tentou disfarçar a frustração pois os garotos o conheciam, simplesmente continuou o que estava fazendo. Eles conversaram empolgadamente mostrando os novos programas, logo até mesmo ele se esqueceu da presença dela e acabou se entretendo com as explicações, sentindo o coração apertar de orgulho. Os moleques eram espertos, e estavam criando programas para potencializar ações na própria vila!

Só depois notou que moça não estava mais ali, ficou com a sensação de que o destino tem meios estranhos de fazer as coisas. Foi ate a sala da direção e viu Luana conversar com a moça que estava seria, bateu na porta e ficou esperando, ela acenou para que ele entrasse:

-Este é Túlio, foi monitor dos meninos por alguns meses, graças a ele o projeto teve andamento.

-Olá.

-Esta é Marina, a monitora de psicologia, esta desenvolvendo um trabalho de oficinas...

-Oi...- estava constrangido.

Saíram conversando, ignorando o acontecido do dia anterior, ela trabalhara em vários programas sociais, estágios, e fazia alguns projetos, ele se admitiu parado, mas contou um pouco de sua historia, de certo modo mudou o conceito que tinha sobre ele. No fim das contas ele puxou o assunto do dia anterior e admitiu que ela estava certa.

-Mas você também me fez pensar, você não obrigou ninguém a nada... E as vezes acho que eu obrigo as pessoas se deixarem salvar...

Aquela discussão durou horas, e aquele contato virou amor. O Mensageiro que a tudo observava estava longe, indo em busca de quem pudesse ajudar alem daquelas terras, pois seu trabalho estava feito....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 23/06/2010
Reeditado em 29/06/2012
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