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   A Mansão da Liberdade
 
 
     Nos idos da década de 50, a mansión del lago, assim chamada por ter como limite uma bela lagoa artificial da propriedade ao lado, sempre se constituia em motivo de curiosidade para as crianças do vilarejo de Colina Caliente, cidadela localizada ao sul de Puerto Aguero, pequeno país da América Central.
 
    Sua história remontava a mais de um quarto de século, quando os Martínez, família de origem Catalã, sigilosamente encomendaram sua construção, a fim de atravessar o oceano e fugir do fascismo que se erguera em seu país. Infelizmente, seus objetivos não puderam ser concluídos e o que se dizia é que os Martínez jamais chegaram a por os pés na edificação, não se sabendo ao certo seu real destino.
 
   Desde então a suntuosa casa havia trocado de moradores por inúmeras ocasiões, os quais sempre acabavam por abandoná-la após poucas semanas de uso, nunca explicitando os reais motivos.
 
   Especulava-se no vilarejo se haveria algum tipo de maldição imposta pelos malfadados Martínez, ou mesmo algum tipo de assombração habitando seus inúmeros cômodos, mas a verdade é que a casa era muito linda e agradável, com jardins internos e cômodos sempre bem cuidados havia mais de duas décadas pelo Sr. Benitez e por Anna de Nazareth, ambos de meia-idade e de ascendência desconhecida, moradores da zona rural do município.
 
   Quando questionados sobre quem lhes pagava o salário mensal, sempre se mostravam arredios e silenciosos, esquivando-se de toda e qualquer resposta concreta, gerando os mais diversos comentários e especulações.Enfim, teimavam em desempenhar sua instigante rotina.
 
   O que os habitantes da cidadela nunca souberam, porém era que os Martínez estavam bem ali, nos arredores de Colina, forçosamente separados perante a comunidade local, e vivendo de sorrateiros encontros noturnos, motivados pela antiga vida conjugal na Cataluña. 

   Seu destino havia sido traçado no velho continente, quando se desfizeram de todas as suas antigas posses em prol do furtivo e audacioso projeto na América, desaparecendo misteriosamente, para espanto de todos aqueles que os conheciam.
 
   Quantos dissidentes já não haviam sido conduzidos em segurança, à procura de uma nova oportunidade de vida... Mas ao final, o que irrefutavelmente permanecia em suas sofridas mentes eram as lembranças dos aprazíveis dias na mansão, carinhosamente alcunhada por seus fugazes inquilinos como a mansão da liberdade!



Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 12/07/2010
Código do texto: T2372947
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