O LEGADO DE MONÃ

A princípio tudo era silêncio. Monã então criou Kûarasy (o sol). Criou Îasy (a lua) e a partir daí foi criando terra, céu, todos os seres vivos e gradativamente todos os seres viventes. Monã é o Deus onipotente para todos aqueles índios falantes de línguas da família tupiguarani. Monã é, portanto, algo infinito.

Por fim, Monã criou todos os seres humanos viventes na face da Terra, todos vevendo em paz. Monã é também conhecido como "Îandé Rub'eté" (nosso paí verdadeiro).

Monã criou também várias entidades como Rudá (o protetor do amor, da ternura), Îurupary (que proporciona os pesadelos). Anhangá (o representante do mal), Tupã (o guardião dos raios, trovões e das tempestades), Ka’apora (habitante do mato), Kurupira, e muitas outras.

Monã pôs um filho seu na Terra, Maíra, tembém conhecido como Maíra-Monã. Apesar de viver rodeado por toda a humanidade e todas as formas de vida, está sempre solitário.

Houve uma primeira provação sobre os viventes da Terra, o "tatá-gûasú" (o grande fogo) que destruiu quase toda a humanidade e a maioria dos seres vivos. Foi aí que Maíra foi viver ao lado de Monã.

Houve uma segunda provação na Terra, um grande dilúvio. Tamandaré, segundo alguns "o repovoador" era um paîé (feiticeiro) que ouviu de Monã que haveria uma grande enchente e que ele fizesse o que fosse necessário. Então, ele construiu uma "igarasú" (canoa grande) e colocou quem ele pode salvar, inclusive a sua própria família, ficando lá até o fim das chuvas.

Quando sentiu que havia chegado a calmaria, todos que estavam na canoa grande, inclusive as várias espécies de animais, procuraram lugares seguros para reconstruir a vida.

Aí, Sumé apareceu entre eles, ensinando os vários truques da agricultura, das plantas medicinais e segredos da medicina, a pesca, a caça, confecção de canoas e diversos instrumentos como o arco, a flecha, o corte circular dos cabelos, a depilação, os bons costumes e muitas outras coisas.

Como não há noção de inferno, paraíso, nem de céu, existe a certeza de uma “terra sem males” (Ybymarã-e’yma), local para onde todos vão e que eles perseguem como uma espécie de paraíso. É onde atualmente vivem Monã e seu filho Maíra-Monã. Esse é o céu dos indígenas falantes de línguas da família tupiguarani. A noção de uma “terra sem males” é tida como um lugar de difícil acesso, uma espécie de paraíso para onde todos irião um dia, naturalmente. Para aqueles que querem alcançar a terra sem males, em vida, têm que suportar todas as formas de privação, como se fosse uma maneira de “lavar a alma” até a chegada ao objetivo.

"E a história, vinda de tempos sem começo nem fim, continua. Contada por índios que ainda sobrevivem, quase que por teimosia, à beira dos rios e igarapés da Amazônia. Os que já não existem contavam-na de outra maneira. Com toda certeza, são tantas as visões da criação do mundo quanto eram as tribos, as nações, o povos.

No princípio Monã era um dos nomes de Nhanderu ou Namandu, o criador do mundo ou bisavô do Universo, que se foi desdobrando em vários heróis míticos. Então, no ano de 1549, chegou ao Brasil um padre jesuíta chamado Manjuel da Nóbrega, que não quis saber desta história. Deus era Deus. Não tinha pseudônimo, apelido, codinome. O resto era lenda. (Torres. Antônio. Meu querido Canibal)."

Monã (Deus), vem de “Monhang” (fazer, aquele que faz, o criador). Nhanderú (Nhandé ou "Îandé", nosso. Rub, pai).