O MODELO

Dispunha de pouco tempo para elaborar o trabalho. Os modelos disponíveis mantinham horários fixos na Escola de Artes; as outras moças conhecidas deixaram de posar. Uma havia se casado e outra estava grávida. Mais nenhum nome lhe ocorria.

Já completara todas as etapas do curso, faltando apenas elaborar os três esboços dos nus femininos.

Fizera cópias das gravuras e esculturas dos grandes mestres, copiara das estátuas e dos atlas de anatomia humana; os temas estavam definidos só faltando desenhar os esboços e para tal arranjar um modelo vivo.

Lembrou-se de uma bailarina decidindo procurá-la uma noite na boate em que ela dançava.

Assistiu toda a apresentação e pediu ao garçom que levasse o bilhete juntamente com um botão de rosa ao seu camarim.

Instantes depois ela surgiu, descendo do palco veio em sua direção, vestida com uma malha dourada que modelava o bonito corpo, sorriu agradecida pela flor, sentou-se à mesa e aceitou a taça de vinho oferecida.

O rapaz se apresentou, demonstrava certa timidez, disse estar buscando um modelo vivo para os esboços exigidos pelo Curso de Artes e lhe fazia o convite para posar para ele durante uma semana.

A bailarina respondeu que adoraria posar, gostaria muito de ter um retrato pintado por um artista, mas não poderia aceitar tal convite, alegando não ter um corpo feminino perfeito.

Ele insistiu explicando que não queria a beleza padronizada, mas simplesmente um modelo vivo que pudesse exibir as formas femininas.

A dançarina agradeceu, sentia-se lisonjeada, porém recusava o convite porque jamais poderia ser um modelo vivo e posar nua. Ela é, na verdade, um travesti.

Fim