Quem sabe...Tudo não foi uma, quase, bobagem!

Estava de bobeira... E,

De repente, àquela vontade de ver novo!

Daí a Saudade ligeira embrenhou-se pelas brechas do tempo...

Ah, que menina levada, demorando-se por ali, quase nada!

Quando de lá das entranhas de Outrora voltou me trouxe uma empoeirada caixa,

Que logo reconheci, trazia-a, tão agarradinha, juntinho de si, para nada, nadinha cair,

E com todo cuidado a Saudade foi derramando as reminiscências diante de mim!

Faceira uma recordação se adiantou, pulou de lá, da caixa, e se pôs a dançar,

O espetáculo era belo – Era eu, meninha, dançado meu primeiro São João!

Eram tantas e boas recordações que bem animada ia, a festa, sabor e cores no ar...

Era uma lembrança atrás da outra, tava, que tava, e eu ali me deliciando no aroma daqueles tempos e a danada da Saudade me fazendo, mais e mais, no tempo voltar!

O passado estava todo esparramado diante dos olhos da minha alma, meu coração aos pulos revendo tudo, tudinho, mesmo...!

A primeira vez que me vesti de branco...

A paz, a confiança e o amor que senti, eu não esqueci, apenas deixei lá no baú do tempo – Que lindo dia, àquele, era a minha primeira comunhão!

O tempo deu uma estremecida e eu me senti algo estranha, era a Nostalgia que dava mostras que na festa também queria entrar!

Pra chamar ainda mais a atenção trazia consigo a Tristeza, com aquele seu traje enfermiço, com o qual, ela, tanto gosta de se aparecer.

Ecos tardios apresentaram-se, bem naquele momento de turvação, fazendo-me vibrar forte, alguns soavam graves enquanto outros de uma agudez, que me faziam extravasar toda a minha emoção.

Eram emanações de todas as lembranças lá do fundão do passado se fazendo presentes.

Minhas pernas bambearam e uma sensação de quase medo de mim se aproximou - Coisas do outro mundo, eu pensei... !

A Nostalgia aproveitando-se, me tentou e eu até quis chorar...,

Fui salva pela Memória, - Ei, tudo isso é passado, vê, já passou!

Que horrível àquela perturbação!

Aos poucos fui recompondo a situação recolhendo as lembranças, separando-as, parecia até que brincava de despetalar a margarida – Essa eu quero, essa vou descartar...

As mais prosas se meteram de volta na caixa, algumas pra lá não queriam voltar...

As recordações descartadas estavam revoltadas, protestavam e, zurziam-me!

Mas, quem disse que...,

Eu queria somente recordar nada de no passado ficar!

Mas, àquele friozinho da depressão se manifestava querendo ali me deter,

Valham-me, comecei a rogar!

Não sei bem de quem partiu a sugestão o certo é que acatei.

Plasmei grande fogueira e as memórias insurgentes o fogaréu com elas alimentei,

Resistia em ali jogar, uma lembrança... Quando quase por encanto àquele passado começou a se dissipar.

Espantosamente ao presente retornei!

Como não sei!

Quem sabe...

Tudo não foi uma, quase, bobagem!

“Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas.

Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo.

E eu serei para ti única no mundo [...] Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...” (O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint - Exupèry)

Ou tal vez uma bela história para antes de dormir!

Porém, o concreto é que, ao nos tornarmos únicos, para alguém, em tempo algum seremos lembranças a serem descartadas, porque estaremos entre as mais queridas e jamais nos tornaremos fumaça!

Cláudia Célia Lima do Nascimento
Enviado por Cláudia Célia Lima do Nascimento em 12/08/2010
Reeditado em 12/08/2010
Código do texto: T2433329
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.