O PORTÃO AMARELO

Eu sabia que havia chegado quando avistava a casa do portão amarelo.

A viagem parecia longa demais.Ficava enjoada com o cheiro do ônibus, às vezes não muito limpo, ou talvez fosse o óleo diesel.Enfim, era um alívio a descida na parada da cidade.

O caminho comprido, ladeira abaixo...E lá estava a cerca , entrava e saía ano,a tinta já descascada e desbotada pelo tempo.

Grades brancas nas janelas, uma varanda limpa, de chão vermelho encerado,e uma rede que balançava com o vento.Nela eu me deitava e ficava ainda mais nauseada...

O quintal parecia comprido , e por entre um gramado mal aparado, lajotas faziam uma trilha e era por elas que eu passava até o barracão.Mais ao fundo algumas árvores, e uma escadinha que dava na cozinha.

Um pequeno jardim abrigava joaninhas e sapos à noitinha.

O barracão era um mistério. Qdo esqueciam a porta aberta podia entrar e sentir o cheiro, que mais tarde soube ser de palha, misturada com tintas e líquidos de pintar porcelanas,tinha sido um local de trabalho, um ateliê desativado.Aquilo me fascinava!

Hoje volto à mesma cidade.Não sei se está lá ainda a casa do portão amarelo, mas existe uma outra casa, em outro lugar, e lá sim desejei muito morar um dia...

Ando por lugares onde vivi, e parece nada ter mudado.As árvores cresceram, a cidade parece um pouco mais apertada, só.

A escola na mesma esquina, a parada do coletivo no mesmo lugar.A doceria , a farmácia , tudo lá, como se não se permitisse a passagem dos anos . Ali é o meu quintal...

Preciso voltar para onde habito. Só habito.Nada além de habitação...

Agora sei que não tenho uma casa, não tenho mais onde viver...

TANIA CLARA
Enviado por TANIA CLARA em 25/08/2010
Código do texto: T2459620
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