Misteriosa Passividade.

Misteriosa Passividade.
 
Chove torrencialmente. É final de tarde em uma quinta-feira primaveril muito estranha para a América do Sul.
 
Sem que ninguém entenda o porque, em alguns dias a maioria absoluta da população parece de alguma forma contaminada por uma misteriosa “doença” que impõem total e incontrolável passividade a população.
 
Apesar da chuva torrencial e dos riscos envolvidos, a população, o governo, órgãos de saúde, de segurança e de comunicação, entre inúmeros outros, praticamente estão inoperantes.
 
Não que este dilúvio tenha algo a ver com a situação de perda total da iniciativa e da completa passividade que envolve o povo.
 
Vários outros dias, esta mesma irritante passividade ocorreu, e não havia sinal algum de chuva.
 
O agravante neste momento é que a impiedosa chuva que se abate sobre a cidade, faz desta situação uma calamidade pública, e a maioria absoluta da população não é motivada sequer a se proteger.
 
Percebe-se nas ruas uma multidão de quase inúteis pessoas sendo envolvidas pela calamidade, muitas delas simplesmente morrendo, e nenhuma ação de defesa sendo tentada.
 
Encostas desabando, enchentes acabando com parte da cidade, falta de energia elétrica, hospitais praticamente parados. Emissoras de rádios e televisão sem programação.
 
Aqueles poucos que por alguma desconhecida razão não foram “contaminados”, não conseguem entender o que tomou conta da maioria da população.
 
O que se sabe das situações anteriores, é que esta situação de imobilidade social, de prostração total que, do nada, toma conta das pessoas, nunca durou mais de doze horas.
 
Entre aqueles que não são tomados desta passividade, está o doutor Jorge Severino. De origem nordestina, como seu nome já nos indicava, ele se esforça, dentro de sua capacidade, tentando remover o máximo de pessoas para locais mais seguros.
 
Como que em uma escolha de Sofia, ele decidiu dar prioridade as crianças e as mulheres grávidas.
 
Sua ação era simples porem eficaz: Todas as crianças que encontrava, agarrava-as no colo, uma, duas até três de cada vez e simplesmente as levava para prédios que considerava seguros e sempre acima do segundo andar. Os prédios escolhidos eram sempre os mais próximos.
 
Tempo era um recurso vital, e quanto mais rápido agisse, mais crianças e grávidas poderia salvar.
 
Era doloroso para ele ver adultos e idosos morrendo, mas sua decisão, certa ou errada, o mantinha a serviço de salvar crianças e grávidas.
 
Como ele, havia alguns outros abnegados não “contaminados”, trabalhando em salvar o máximo de vidas que pudessem.
 
O efeito desmotivador que paralisava a maior parte da população, tão misteriosamente como chegou, se foi. A população foi tomando consciência da calamidade, e teve início uma jornada de fuga e salvação coletiva. Entretanto, o impacto em mortes e perdas era incomensurável.
 
A cidade foi acometida por um quase cataclismo. O terror parecia cinematográfico.
 
Superada a crise, passado o rescaldo, havia mais de um milhão de mortes e um número ainda maior de desaparecidos.
 
O doutor Jorge apostava que aquilo não era resultado de nenhuma contaminação químico/bacteriológica. Não se trataria assim de nenhuma infecção coletiva bacteriana ou virótica. Não era coerente para ele que a causa de tal reação conjunta, com sincronização coletiva para início e fim, fosse decorrente de ação puramente biológica ou química.
 
Ele defendia três possibilidade teóricas, mas apenas uma lhe parecia possível e coerente.
 
A primeira possibilidade aventada, mas que não era corroborada pela sua racionalidade, apontava para a existência de alguma força alienígena que se apoderasse da mente da população. Ele apesar de acreditar na possibilidade da existência de vida fora da terra, jamais aceitou a ideia da existência de seres alienígenas entre nós ou próximos a terra.
 
A segunda opção, também descartada pela sua racionalidade crítica, era que algo sobrenatural estivesse agindo sobre a população.
 
Ateu e materialista, o doutor Jorge, apesar de ver esta possibilidade como teoricamente possível, descartava-a por total incoerência com o mundo que ele percebia.
 
A terceira opção, parecia-lhe a única correta, apesar de não dispor de nenhuma evidência que a comprovasse.
 
Estudioso e pesquisador, o doutor Jorge sabia do poder de interferência em nosso controle mental que algumas ondas eletromagnéticas possuem. Estas ondas podem alterar a consciência e o comportamento de animais.
 
Apesar de desconhecer a existência de alguma arma com o poder de atuar em toda esta vasta área. Esta proposição era a única plausível. Se pudéssemos mensurar, deveria existir um campo eletromagnético poderoso atuando, sempre que este evento de passividade coletiva ocorria.
 
Mas quem seria o infeliz responsável por esta desumana tragédia.
 
Em sua pesquisa, o Doutor Jorge descobriu a existência de uma fazenda de antenas misteriosas, em uma das superpotências que dominavam militarmente o mundo. Estas antenas poderiam estar sendo testadas como arma de guerra, exatamente na américa do sul.
 
“Imaginemos só o poder de uma arma destas” repetia o doutor. Ao toque de um botão, toda uma área geográfica estaria submissamente entregue a prostração total, permitindo ao atacante invadi-la quase sem reação de defesa, minimizando assim mortes em seu exército.
 
De tanto que ele defendeu esta teoria, a ONU acabou exigindo explicações para o uso daquela fazenda de antenas e agendou visitas à instalação.
 
Após alguma dificuldade inicial, a ONU confirmou o que o nosso doutor Jorge já pregava a algum tempo.
 
A ONU obrigou o país a destruir aquela fazenda de antenas e proibiu legalmente qualquer estudo nesta área como arma de guerra geral.
 
O Doutor Jorge continua em sua luta, uma vez que a restrição imposta pela ONU envolvia apenas armas de uso geral. Esta superpotência, hoje desenvolve armas nesta linha para uso individual, e a ONU não se opõem.
   


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 29/08/2010
Reeditado em 29/08/2010
Código do texto: T2465743
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