A menina e os desafios.

Naquele dia ela levanta da cama com náuseas. Tem medo do que vai acontecer, muito medo.

Inteligente, tenta conformar-se: todas as coisas novas assustam no início, dissera a professora de matemática. Argh! Faz uma careta para o espelho, odeia matemática!

O rosto muito infantil para os seus quinze anos é belo apesar das naúseas, do suor frio, da tremedeira nas pernas.

Corajosamente coloca o uniforme horrendo, saia azul marinho, blusa branca, sapato preto e meias brancas. Doma os cachos ruivos com uma fita branca. Argh!, sussurra de novo, agora para o seu visual.

Após o café reforçado que devora gulosamente, e muitos tchaus apressados e beijos molhados na família, ela sai correndo para a nova escola.

Dobrando a esquina, olha para os lados e começa o ritual de dobrar a saia na cintura para ficar mais curta, e tirar da mochila o espelho e o batom.

Pronto! Pensa um pouco mais calma. Vamos lá enfrentar os novos colegas.

Caminha decidida, cabeça erguida, ombros retos, olhar desafiador. Não quer parecer insegura.

Para consolar-se, lembra do primeiro sutiã, dos primeiros sapatos de salto alto.

Quando os seios começaram a crescer tornara-se curvada, começara a usar muitas blusas sobrepostas.

Mas com o advento do sutiã, de repente parecera que novas possibilidades surgiam.

Já não era uma menina, já usava salto alto e sutiã!

Assim pensando, finalmente avista a escola imponente que se avizinha na próxima quadra.

O coração acelera, a garganta fica seca.

É em estado de total ansiedade que ela atravessa o pátio principal e olha assustada para o enorme prédio que a espera, impassível.

Está saindo de uma escola de freiras, só para meninas, e começando uma nova etapa naquele horrendo colégio público, e misto, ainda por cima!

Para completar, não conhece ninguém, e vendo a algazarra com que entram na escola, começa a duvidar que conseguirá fazer alguma amizade.

Já não sabe se sairá viva desta experiência, pois ao entrar na classe e escolher uma carteira, olha assombrada os palavrões e riscos grosseiros que não existiam no colégio das freiras.

Meninos de todos os tamanhos circulam, fazendo muito barulho, exibindo-se para as meninas.

Nunca pensara que sentiria falta do ambiente calmo e ordeiro do colégio antigo.

Suspira e baixa a cabeça para começar a escrever as anotações que uma professora esgotada e alheia à bagunça generalizada deixa no quadro displicentemente.

A náusea cessa, o coração aquieta, e sua mente aceita.

A redoma fora rompida, e ela era forte e segura o suficiente para enfrentar a nova vida.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 29/08/2010
Código do texto: T2467368
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.