PRIMEIRO DIA...

Desperto com os primeiros raios de sol da manhã tocando meu rosto levemente, escapando por entre as frestas da janela fechada do quarto.

Levanto-me e abro-a.

- Meu Deus! Como o dia amanheceu maravilhoso!

Vejo as luzes se espalhando por todo o canteiro, dotando o gramado de um verde cintilante, os galhos das arvores desatando fachos de luz como se fosse arvores da vida no Éden, o campo de flores reluzindo suas cores vibrantes e alegres, a simetria perfeita dos colibris sobre as flores, o pouso suave das borboletas sobre as rosas tão vermelhas quanto o sangue, toda a vida se transformando sob este céu azul e revigorante que se inicia hoje. Completamente diferente de ontem à noite, quando cheguei de viagem, aqui, na casa de meus tios. Além da chuva torrencial que caía dos relâmpagos constantes, dos trovões assustadores, eu tremia de febre. Deu-se isso provavelmente, devido à baixa resistência que o meu organismo apresentava até então, junto com a longa viagem de ônibus da capital para cá. Mas, ainda bem que já está tudo sanado, bom que passou.

Sempre que tiro férias do trabalho, no centro, venho visitar meus tios e primos aqui no sudeste do estado, gosto da vida simples do interior, de estar perto da natureza, tranquilo, longe da avenida comercial, onde não há tanta gente andando com pressa para todos os lados se esbarrando uma nas outras, como se fossem zumbis atarefados, cumprindo ordens. Prefiro a vida assim, calma, distante da agitação.

- Hum, essa manhã está pedindo uma boa pescaria.

Vou aproveitar que eles não acordaram ainda e ir direto pro lago da fonte.

Pego rapidamente a vara de pescar o carretel de linha, os anzóis e a lata com as iscas e saiu sem acordar ninguém, quero aproveitar ao máximo esse dia tão espetacular e glorioso que se levanta.

Caminhando pela estrada de mato rasteiro, logo percebo a diferença do ar da cidade grande em relação ao do interior, a atmosfera campestre é visivelmente mais pura e mais limpa. O aroma que vem das árvores é bem distinto ao da capital, é tão confortante e impactante que parece estarmos em outro planeta. O canto dos pássaros é sem duvida um espetáculo a parte, todos em suas harmonias: bem-te- vis, sabiás, curiós, cambaxirras, etc. Uma orquestra alada regida pela maestria da mãe natureza.

Chego ao lago, à visão que tenho é a que eu esperava. Águas tão límpida e cristalina que chega a ser possível ver nitidamente o conteúdo de sua profundidade, os peixes nadando livremente pelo seu leito e com o toque dos raios da manhã, produzem cores e luzes espetaculares sobre sua superfície ampla e tranquila.

Sento-me em um rochedo ao pé da grande árvore que fica a poucos metros da margem do rio, preparo a vara para dar início à pescaria, lanço a linha nas águas e permaneço contemplando a paisagem exuberante desse lugar.

- É, acho que os peixes não vão me dar chance mesmo.

Não conseguir nada e já fazem horas.

Com o insucesso da pescaria, recolho todo o material usado e guardo, aproveito para dar um mergulho no lago e flutuar sobre suas águas claras e convidativas.

- Ah, como é relaxante.

Depois de um tempo ajeito-me, pego os utensílios e retorno ao caminho de volta a casa, completamente revigorado e feliz por ter aproveitado plenamente essa manhã, diferente de como costuma ser na capital. Sinto-me contente, por ter experimentado um momento bucólico de paz.

Na trilha em que eu caminhava sorrindo e despreocupado, noto ao chão um passarinho deitado e imóvel.

- É um rouxinol!

Está morto pobrezinho!

Deve ter sido atacado por um gavião.

Deixo o pobre cadáver do pássaro e continuo o trajeto que eu estava tomando.

Há alguns metros da casa percebo certa mudança no clima do céu que se apresentou durante toda a manhã.

- Deus, como o tempo fechou de repente!

Vem aí uma baita chuva daquelas de novo.

Ao entrar na casa me deparo de súbito com uma movimentação diferente. Há algumas pessoas, juntamente com meus tios e meus primos, aglomerados no interior do quarto onde me hospedam, a chuva começa a cair torrencialmente.

- O que aconteceu primo?

Ta tudo bem?

Entro no quarto ainda sem entender o real motivo de toda essa agitação, relâmpagos e trovões começam a se manifestar agora. Escuto uma conversa estranha que se dar entre os presentes.

- Como assim tia, quem não resistiu à febre?

O que ta acontecendo tia?

Ponho meus olhos na cama e me vejo deitado, coberto por um lençol até o pescoço, sem vida.

- Meu Deus! O que ta acontecendo!

Gente, gente eu to aqui, aqui!

Que dia terrível! Meu Deus! Que dia terrível!

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Tomb
Enviado por Tomb em 30/08/2010
Código do texto: T2468582
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