na margem

Um olhar perde-se num casal de idosos que passeavam à beira-rio, de mãos dadas. Devagar e com os passos incertos, eles inalam a serenidade daquele lugar paradisíaco.

Sem se aperceberem que são observados, o homem diz para a sua companheira:

_Dá - me um beijo, meu amor? Pediu ele com um sorriso maroto.

_Cuidado, pode aparecer alguém! Responde confrangida - olhando ao seu redor.

_Sempre que vimos aqui passear dizes o mesmo. Disse sorrindo.

Ela volta a olhar em redor e como não vê ninguém próximo, oferece-lhe os lábios.

Com o olhar cheio de ternura e delicadeza nos gestos, beija-a suavemente como fosse um sopro de vida.

_ Pronto, pronto, diz ela, afastando-se um pouco.

¬Continuam o passeio de mãos dadas com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios

_¬_ O que te faz lembrar estes momentos? Pergunta ele sereno como o mar antes da tempestade.

Depois de uns minutos responde:

_A nossa juventude.

Com um sorriso luminoso deixa-se ir na corrente infinda das lembranças.

Na sua mente, naquele momento, perpassa um casal de jovens num outro rio numa outra margem em que ele corria atrás dela. Ela tinha o cabelo num rabo-de-cavalo, mostrando todos os suaves contornos do rosto atraente.

_Apanhei-te! Disse ofegante e roubando -lhe um beijo.

Ao princípio ficou surpreendida, mas relaxou e começou a corresponder ao beijo intensamente.

Ele queria perder-se nela. Relevar a sua essência dentro dela, tornar-se parte do espírito e do corpo dela.

Uma lágrima desliza mansamente trazendo um misto de saudade e felicidade. Aperta a mão do marido com mais força.

Ao longe várias mãos acenam-lhes. Com alegria no coração caminharam em direcção aos filhos e netos.

Uma voz curiosa pergunta:

_O que andaram a fazer?

O homem responde a sorrir, e abraça a esposa.

_ A namorar uns lindos olhos azuis e este sorriso maravilhoso da tua avó.

Isa Castro
Enviado por Isa Castro em 31/08/2010
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