Lucubrações Desconexas.

Ouço passos, vozes e vejo coisas esquisitas. Às vezes imagino estar sendo perseguido pelas portas que se fecham quando passo. Quase sempre devido à ação do vento. Os objetos fogem do meu redor. Os ruídos tendem a me contrariar. Eu mesmo, na maioria das vezes, tendo a me contrariar. Muitas coisas circundam meu ser. Salvo a vida, mas me esqueço de me salvar junto, também. Vejo os caras em suas insignificâncias e as desejo também. Muitas das vezes não sou eu, sou apenas um corpo comandando um veículo. O corpo, não eu.

Quantas vezes não cansei de me dizer para parar de me telefonar no meio de um sono? Quantas?

Tudo não passou de um mal entendido. Qual é você? Qual dos mil têm a razão? Para onde pensa que vai? Não, lugar nenhum te merece. É melhor ficar onde está. A vida não foi feita para ser destruída tão facilmente.

Tantos cabelos desperdiçados, tanta massa corpórea mal aproveitada. E querias ser juiz?

Desligo o ar-condicionado e percebo que não sou um Jim Morrison nem um Robert Lois Stevenson. Sou apenas mais um Fulano Cicrano de Almeida da Silva Vida Bueno, que percorre o caos da sensação vivida. Anseio apenas por minha tumba fria e úmida, porém aconchegante, antes mesmo que algum verme de Dante possa roer as frias carnes de meu cadáver.

Como Pessoa, o mero sofrimento pensado me faz sofrer. É-me suficiente.

Os cães comem com os olhos. Não diga que não é verdade. Os gatos também degustam maravilhas apenas com o olhar. São estupendas criações da natureza, a Mãe Natura. E como se fartam. A fome é uma ilusão que basta um olhar para saciá-la.

Cristiano Covas, 01.04.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 09/09/2010
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