KAKÁ – O PRÍNCIPE DO FUTEBOL MUNDIAL




Naquele lugarejo afastado da cidade de Caxias, no Estado do Maranhão, conhecido por aquelas adjacências como um simples povoado Coffe. Bem ali, não muito distante com apenas quarenta e dois quilômetros rumando na estrada Estadual de Caxias ao município de Coelho Neto, entrando à direita no sentido oposto à cidade, a placa indicativa no mastro de pau pombo informa – localidade Macacos, cujo acesso beira nas cercanias do interior do minúsculo povoado Tigre passando pela matas do cerrado aberto das palmeiras e cortando o centro de plantações de eucalipto da empresa Ramires na localidade Bolo Doce que faz divisa com as plantações de bambu da empresa do grupo econômico João Santos. Durante todo o percurso por veredas impróprias e trilhas apertadas com garranchos e espinhos, onde há somente uma estradinha dando acesso entre o caminho sertanejo com arvores gigantescas e lançadas entre as palmeiras de babaçu a tão sonhada localidade Coffe que um dia desejei conhecer e me aventurar como um desbravador das matas do meu incansável sertão.

Logo ali, vislumbrei o meu olhar com as mesmas palhas das palmeiras de alguns vilarejos no Vietnã como uma floresta altiva e remanescente de um cruzeiro invejável aos passos de uma caminhada longa. Até então, os moradores daquele paupérrimo lugar deslocavam-se às noites aos lugares como Chapadão do Monsenhor onde uma senhora religiosa comemora anualmente a festa do nascimento do Senhor Jesus Cristo e também não me desviando de outro lugarejo onde as brincadeiras nas noites de luar não se encerram com o festejo junino e desfilam o ano inteiro em diversas festividades populares não escritas em livros. Era uma alegria conhecer os modos de vivência, os costumes e a educação fraseada em cada boca de um coffiense na demonstração de amizade e carinho ao visitante naquele pedaço de chão esquecido dos meios contemporâneos.

Noutra oportunidade, observei como aquelas pessoas simplórias comentavam nas probabilidades de aguardarem as datas comemorativas que atravessam os tempos e os meios dos quais uma sociedade reduzida no meio do mato entre a caatinga desfavorável e a convivência salutar de dias melhores. Naquela banda da Boca da Mata chegando às proximidades do Barro Vermelho quando se aproximava as datas festivas, pois, inúmeros habitantes se preparavam com suas melhores roupas, calçados, chinelas, além de algumas mulheres que arrumavam o tabuleiro para comercializar pamonhas de milho verde, canjica, pé de moleque, bolos de arroz cozido, mingaus, sem esquecer a garrafa de café e um litro de pinga.

Centravam-se no Coffe, e nas portas dos moradores vários agricultores com seus facões afiados na cintura, meninos brincavam correndo de pega-pega e as mocinhas conversavam sobre os paqueras que poderiam encontrar por lá entre a Boca da Mata e o Barro Vermelho. Naquele dia a luz solar já havia fechado suas pálpebras por trás do morro do capoeirão e no meu relógio marcava dezoito horas e cinco minutos, onde o lusco-fusco já havia avançado por todo o cerrado quente daquelas matas embrenhadas na caatinga. Por aquele primeiro e único caminho, desciam e subiam uma romaria que se alinhavam um atrás do outro seguindo pelas matas fechadas com apenas o refrão da lua atravessada em riscos pelo chão. Era uma alameda tão apertada que os meus braços se arranhavam com as cutiladas dos cipós, além da conversaria sem fim que se prolongavam nos ecos entre as alturas do destino. Os boys corriam à frente com pedaços de paus, outros gritavam e as meninas cantavam as canções de Zezé di Camargo e Luciano num coro estridente que as corujas se espantavam do meio do caminho. E no meio da fila as velhinhas rezavam com as velas acesas acompanhadas das mulheres de vestidos de chita variados com os filhos menores nos braços. Sem se importar que os homens e os velhos também abriam os seus repentes pelo sertão lúcido, e assim, eram as diversões com as comemorações da vida sertaneja pelos interiores longínquos da cidade da Princesa do Sertão maranhense.

Sabe-se que na localidade Coffe não há o programa de energia elétrica, escolas, ruas, comércios e muito menos um posto de saúde. E neste ponto, ressalta-se que por infelicidade quando o enfermo não pode andar, é necessário deitar numa rede com um pau atravessado em suas extremidades e caído nos ombros de dois homens que levam na agonia até a beira da pista preta e aguardar um filho de Deus com bondade para dar uma carona até a cidade de Caxias.

Ali, naquele pedaço de terra onde sobressaem várias casas cobertas de palhas de babaçu de alguns moradores, as de melhores condições são pintadas ou possuem uma latada de palha onde se ajuntam os moradores para conversarem os assuntos da atualidade. No entanto, pode-se ver bem ao lado uma pequena venda chamada de Vereda Tropical com pequenas mercadorias tais como açúcar, arroz, velas, sabão, fumo de rolo, querosene, óleo de babaçu, vinagre, corante, sardinha, farinha de puba, farinha branca, lamparinas, um urinol de alumínio pendurado no centro da casinha, aquele vaso apropriado para realizar as necessidades fisiológicas. Além disso, por baixo do balcão encontram-se vários litros da “Moça Branca” ou da conhecida “Azulzinha” com uma serpente coral para matar todas as pestes que se misturam no corpo humano como uma boa cachaça, e que tais produtos não são atingidos pela validade que realçam nos produtos dos supermercados.

O atraso de uma sociedade composta por cento e cinquenta habitantes que jamais foram identificados pelo IBGE e, no entanto, pessoas relevam aos fatos de que estes convivem de forma sem qualquer meio de comunicação em que os bens de consumo superam os grandes centros desenvolvidos. Ali, naquela província esquecida, não há dinheiro como também não se abre qualquer porta para um desenvolvimento sustentável para a educação. Asseguro que Coffe é comparado a uma aldeia tribal de Darfur localizada no oeste africano do Sudão ou como os cinturões de acampamento de Uganda.

Não muito distante entre as casinhas de palhas com paredes de taipa e cercados em sua volta com talos de babaçu, vê-se um espiral de uma cabana estendida no centro, onde uma mulher de vinte e cinco anos agrupa várias crianças, sentadas num grande tronco de palmeira cujo tronco cortado e deitado na transversal, perfaz ali uma fileira na diagonal do recinto como se fossem bancos de uma igreja. À frente, podia se ver a professorinha soletrando as palavras e contando histórias, além de falar sobre o poeta de Caxias, o grande Antônio Gonçalves Dias que morreu afogado no mar sem que alguém lhe ajudasse a tirar do camarote, afirmando aos alunos que todos os passageiros do navio foram salvos menos ele que sofria de doença transmissível. Muito engraçado, são os passeios ecológicos que a professora cria ao redor de uma pequena lagoa com apenas doze alunos sem qualquer estruturação pedagógica ou distante de qualquer forma atual de alfabetização. Mas, os seus conceitos são severos e tão firmes que desafiam qualquer estudante universitário ou até mesmo um frágil doutorado que se mescla em mil cursos por aí a fora. Sem qualquer diploma nas mãos, ela sabe se expressar nas múltiplas orações que proclama em prol daquele povo inocente e se orgulha de ter alfabetizado crianças e velhos.

Desse embate sociável, Coffe é uma localidade escondida dos meios de comunicação, além do acesso dificílimo pelas estradas vicinais. E achei incrível como as crianças daquele lugar sabem os passos do grande futebolista brasileiro - Ricardo Izecson dos Santos Leite, como é conhecido como Kaká. Os comentários de suas vitórias e lutas no reinado do futebol, inclusive, eu  ouvi comentários sobre a grande representação desse ídolo como Embaixador na ONU na questão da fome. Ressalto que não vi nenhum retrato desse Hércules do futebol mundial nas casas de seus admiradores, mas, a fé e a imagem refletida em suas mentes, tornavam-se constante como um Rei em plena ebulição da Copa do Mundo ao meio de tantas amarguras silenciosas em que passam os míseros esquecidos dos planos sociais. Era ali no povoado Coffe que Kaká reina com todas as aspirações com toques em cada boca na pronúncia do renomado nome. Tão popular naquele recinto que nem mesmo Pelé seria capaz de apagar a sua imagem como um Príncipe do coffeenses.

Todavia, o importante é que hoje me encontro dividido entre Caxias e a localidade Coffe num passeio que realizo com o meu amigo Antônio Luís do lugarejo Bebedouro, sei que vou perder a partida de futebol, aqui não possui nenhum televisor, e não dará tempo percorrer a pé este desfiladeiro até o local onde se encontra o veículo estacionado. Enquanto isso, a notícia se espalha por todo o capoeirão da estreia do Brasil na Copa do Mundo. E hoje, dia 13 de junho de 2006, de imediato, o assunto futebolístico se dissemina de tal maneira que não há outro contexto mais importante entre os moradores deste pequeno povoado com a participação do seu ídolo - Kaká. E o tempo vai passando, e Coffe amanhece balançando as folhas dos cocais com o cântico dos bem-te-vis e sibites, e as galinhas iniciam a descida dos poleiros entre os pés de goiabas dos fundos dos quintais, e ouço da rede onde durmo as mulheres apressadas a pisarem o arroz no pilão para fazer um cuscuz de arroz para os visitantes.

Naquela terça-feira com o sol aceso no azul do céu, marcava o dia treze de junho como o dia de Santo Antônio na qual o povo daquele reduto tem como devoto o santo casamenteiro, assim como auxiliar as pessoas a encontrarem os objetos perdidos. Entre as festas juninas com fogueiras armadas no centro da porta de cada residência marcava as comemorações desta inolvidável festa com fogueiras à noite e grandes abóboras para assar nas brasas, produzindo um arraial com palhas de babaçu onde os brincantes do bumba meu boi levantavam poeira igualmente as quadrilhas com o João da Sanfona abrindo o riso contagiante daquela gente pobre. O mês de junho com festinhas animadas de Santo Antônio, São João e São Pedro e muitas comidas típicas era pra mim uma alegria em olhar a cada aspecto como eles são felizes sem possuírem nada, apenas a gratidão e o respeito como a melhor flor do coração.

Logo, na entrada da estreita estrada que dá acesso ao povoado, via-se logo o caminho largo, estendendo ao minúsculo campo de futebol com as casas aos arredores, e diante das casas, ali, estava a casinha do menino Nena, um garoto de sete anos de idade, que trabalha na roça ajudando os seus pais e irmãos, com cútis morena clara e altura de um metro e quarenta centímetros, com traços de um menino extrovertido e muito falante. Seu pai chama-se Totó, um caboclo de trinta e sete anos, de cor negra, acostumado a viver no sertão maranhense, casado com Dona Filó que amamentou seus doze filhos, sendo quatro mulheres e oito homens.

Já fazia bom tempo, o sol já se posicionava na direção das nove horas daquela manhã, tendo como marco o próprio chão com a sombra de uma palmeira como relógio que demarcava todos os dias os horários em que o tempo atravessa aquela gente simples e humilde. Nena e seus colegas já havia pego no matagal próximo várias ramas de cipó, estendendo e esticando nas pontas dos paus extraídos da caraíba como se fossem fios, entrelaçando numa quantidade aproximada de vinte postes de madeiras. Uns guris juntamente com as meninas, adornavam e alinhavam numa única direção os cipós com folhas verdes de Sambaíba, dependurando nas pontas dos cipós e, entre estas folhas verdes, as meninas recortavam folhas de bananeiras maduras na cor amarela, enfiando entre o verde-esmeralda. E após, costurando com linha nas extremidades, o que na verdade pareciam os reais tons da bandeira nacional. A aura assoprava nas bandeirolas no espírito daquela criação singela as belas cores do Brasil - verde e amarela, indo repercutir com uma vara de talo seco de babaçu com mais de seis metros no frontal da casa de palha do senhor Totó, recortado num pedaço de cartolina, onde se observa escrito “BRASIL CAMPEÃO”, demonstrando que na humilde residência havia torcedores do Brasil, pena que por aquele trecho não cruza nenhum cristão. Após o término dos enfeites no vilarejo, tudo parecia uma magia com o simbolismo de garra para a Copa Mundial no primeiro jogo da seleção brasileira contra a Croácia. Uma placa de papelão feita pelo menino Nena em tamanho gigante fixava na entrada do lugarejo com a seguinte frase escrita com carvão vegetal – “Kaká é o nosso campeão”.

Naquele instante, apressado o moleque Nena se dirige ao pai  que se encontra à janela observando as jornadas dos garotos nos preparativos da Copa, entre sorrisos e gargalhadas não faltavam para aquela ocasião festiva. Minutos em que interpela:

-Pai, o senhor comprou as pilhas do rádio?

Coçando a cabeça, ele responde:

-Não. O dinheiro que eu tinha só deu pra comprar o remédio da tua mãe.

-E aí pai? Como a gente vai ouvir o jogo do Brasil com a Croácia? Peça pai! Umas pilhas emprestadas ao seu Félix. A turma todinha vem pra nossa casa. O senhor tem que arranjar um jeito, eu tenho certeza que não vai deixar as visitas sem ouvir o tal jogo. Ninguém tem rádio por aqui, e todo mundo tá querendo ouvir o Brasil jogar. Por favor, pai! Peça pro seu Félix emprestado é só hoje. O rádio dele tá desmantelado e não presta. Por isso, peça emprestada.

Conformando o garoto, Totó diz:

-Tá bom filho, vou lá agora.

Sem demora, o pai do garoto adentra na casa do senhor Félix, e cumprimenta.

-Bom dia seu Félix!

-Bom dia seu Totó, o que me trás de novidades por aqui a essas horas.

-Seu Félix, eu vim lhe pedir emprestado às pilhas do seu rádio, hoje tem jogo do Brasil e a turma tá querendo ouvir no meu canarinho de ouro. E também tenho duas visitas importantes na minha casa. E o jeito que tem é me virar pra arranjar as pilhas.

-Não seja por isto, vou ao quarto buscar. Um momento.

Não muito distante, O miúdo chamado Nena bastante entusiasmado com as outras crianças discutem e fazem apostas sobre a situação da primeira partida do Brasil na Copa do Mundo, porém, Nena fala mais alto sobre o seu ídolo Kaká com o amigo Fernandinho, argumentado:

-Sabe amigo, eu queria tanto que o meu príncipe fizesse dois gols logo de início. Poxa! Aí sim, eu ia ficar bem mais tranquilo com o Brasil.

Sentado debaixo do pé de faveira, Fernandinho cabisbaixo afirma:

-Seria bom demais se o Kaká metesse logo uma bomba no primeiro tempo. Nossa! Um chute daqueles que a rede fica tremendo. Mais eu tenho certeza que ele vai marcar logo um.

Com as mãos segurando uma bandeirola de folha de banana nas cores do Brasil, Nena indaga sobre o seu pedido ao amigo:

-E aí, a professora arranjou a revistinha sobre o Kaká?

-Acho que não. Mais ela disse que vai conseguir uma pra você, lá em Caxias.

-Vai nada. Tô cheio de promessas Fernandinho. Você sabe onde fica a Praça Panteon lá em Caxias?

-Sim, já passei uma vez por lá.

-Bem na esquina do lado daquele colégio de rico tem uma banca de jornal. Um dia, a mãe foi na prefeitura e eu pedi pra ela me deixar ali perto da banca de revista.

-E aí o que aconteceu?

-Meu amigo! Quando vi o retrato do príncipe naquele uniforme titular do Milan. O meu coração voou tão alto que eu quase levei uma bordoada do dono da banca de revista.

-Como assim?

-Ele gritou comigo, mandando eu me retirar da banca de revista, eu penso que ele estava imaginando que eu ia roubar o pôster do Kaká. Tinha uma porção de gente olhando revistas e o cara não teve consideração só porque eu sou pobre. Fernandinho! Eu posso ser pobre mais ninguém aqui é ladrão, ninguém é desonesto. Só por eu olhar aquele pôster plastificado o cara ficou de olho em mim. Um dia eu vou quebrar uns dois sacos de coco babaçu e comprar o pôster do Kaká. Vou chegar naquela banca e jogar o dinheiro na cara dele e pegar o pôster do meu príncipe. Aquele sim é o rei da bola.

-Eu vou contigo nesse dia pra mim lhe acompanhar. Me avise Nena que vou também lhe ajudar a quebrar coco, também quero um pôster do Kaká.

-Tá bom. Eu lhe aviso amigo. E vou começar depois da Copa do Mundo. Eu pintei uma camisa e coloquei o nome do Kaká, ficou massa.

- A professora me disse que ele tá fazendo sucesso pra caramba na Itália, calando a boca de muita gente. Ela também gosta do Kaká demais.

-É mesmo. Mais também aqui a gente não sabe de nada sobre ele. Se eu morasse em Caxias, eu podia vê ele na televisão jogando.

-Como? Se ele mora na Itália.

-Não. Tô falando do jogo da seleção que vai jogar hoje na tal de Alemanha que eu nem sei pra onde fica.

-É mesmo! Mais fica difícil pra gente ir pra Caxias assistir o jogo, não conhecemos ninguém por lá.

E tu não sabe da maior novidade?

-Não, não sei não, e qual é?

- Fernandinho, presta atenção! Ontem eu e o maninho ajeitamos o campinho de bater bola. Só falta arranca os tocos das laterais. Só vou lhe contar uma coisa, depois da aula vamos bater uma pelada. Quero fazer um time de futebol só de crianças e vou colocar o nome do time assim: KAKÁ FUTEBOL CLUBE DO COFFE. Vai ficar massa pra dedéu.

-Poxa! Ficou legal à beça. Quem sabe podemos marcar um torneio com os meninos lá da Boca da Mata.

-Isso mesmo! É uma boa ideia a gente fazer isso.

Em seguida, Totó consegue as quatro pilhas usadas do senhor Félix, e sai apressado em direção à sua casa. Instantes em que o mesmo adentra na sala e abre a parte traseira do Rádio ABC CanarinhoA voz de Ouro”, um modelo transistorizado e fabricado nos anos setenta pela Transbrasil – III, usufruindo de quatro faixas entre elas, médias, tropicais, curtas e ampliadas. Notadamente, a bela voz daquele antiquado, via-se na frontal os quatro botões brancos com um visor de faixas na cor preta e números na cor branca, fazendo um contorno na parte superior com um tecido de fibra na coloração ouro. E ao lado direito, as letras douradas ABC com o fundo preto e uma circunferência mais forte na cor ouro redesenhada com o pássaro canarinho.

Na varanda da porta, sentados numa longa arvore que servia de assento, o senhor João da Onça, o Zeca Cabeludo, Mão de vaca, Malaquias, Dona Mundica, Evaristo, Zé pretinho, o Zé bico doce, Alfredão da Zita, Raimundinha, os filhos do Antônio Lopes, Maria Madalena, Clotilde, Pedim, Zezé da viúva, Chico da radiola, esposa e filhos, João da farinha, Janoca, Mocinha, Nego Saci, Jeane, Dona Mindu, Arcanjo, Manelito, Chiquita Bacana, Arroz não deu, Zé merda, além de uma quantidade de crianças incontáveis que aguardavam o rádio ABC zoar naquele recinto. Momento em que dona Filó esposa do Totó já bastante preocupada diz:

-Totó, tô vendo chegar a hora, e este radio não funciona. Eu já esquentei no fogo um monte de pilhas velhas, não sei se vai dá pra carregar.

Neste momento, eu sorrir por um longo tempo pelas esperanças que aquele povo sofrido combate com alegrias os dias com o passar do tempo.

E sem demora, o esposo responde:

-Calma mulher, deixa de me aperrear, assim esse jabuti não fala.

-Tô falando isso é pelo motivo de que a antena tá muito baixa lá fora, e parece que um urubu quebrou o fio de cobre.

Neste exato momento, Totó chama o filho.

-Nena! Ô Nena! Onde tu se meteu rapaz? Não tá vendo que tô botando o radio pra falar. Vai vê a antena que a tua mãe disse agorinha que um urubu quebrou o fio, e vai logo. Anda com os pés rapaz e chama o Adão. Depressa!

Apressado Nena responde:

-Tá bom pai. Vou procurar por ele e consertar logo senão a gente não ouve o jogo.

Por trás do rádio ABC estava o retrato da Seleção Brasileira na parede de barro com os jogadores da última copa em que foi pentacampeão. E nesse vai e vem, a moçada lá fora começa a gritar pelo som do rádio, minutos quando João da farinha interpela:

- Como é que é seu Totó? O seu jabuti vai falar ou não vai? O jogo tá pra começar. Se esse berimbau não falar é muito azar mesmo.

Dona Filó nervosa fala pro marido.

-Totó, é bom você colocar o resto das pilhas do lado do pote pra carregar, senão pode falhar as pilhas do Félix, e aí você vai passa vergonha com este povão que tá lá fora.

-Mulher, eu já enterrei as outras pilhas velhas na areia a semana toda, não é possível que elas vão falhar agora.

-Presta atenção marido, falei pra você se prevenir. Olha que temos visitas em casa.

Lá fora no alambrado, vários meninos com a camisa escrita na frente com os dizeres – KK, com o melhor adereço e o nome abreviado do grande jogador brasileiro – KAKÁ. Logo, a turma reunida discutia sobre o placar do jogo enquanto Albertão discutia com o Arroz não deu e Chico bacana.

-Vocês não têm condições de apostarem comigo. Esse jogo vai ser 3 a 0, vai ser uma goleada com dois gols do Ronaldinho.

Disse o Arroz não deu:

-Que nada Albertão. Tu deixas de ser bajulador, o Brasil vai ganhar com uma diferença de dois gols. E os dois gols vai ser do galã e artista Kaká.

De imediato, sorrindo e dando gargalhadas Chiquita Bacana com um copo de cachaça seguro nas mãos, afirma:

-Vocês não sabem de nada. Quem vai perder e levar uma goleada é a tal de Croácia.

Pedim já zangado provoca o Arroz não deu, dizendo:

-Marrapá! Na tua casa o arroz não deu?

Instantes em que o jovem irritado pela expressão empurrou Albertão e todos sorriram. E dona Mundica falava em bom tom.

-Eu fiz uma promessa com Santo Antônio, e ele não é santo de não cumprir o que eu peço. Esse jogo vai ser de 1 x 0 pro Brasil. E o meu Kaká vai marcar logo na abertura do jogo.

Nena ouvindo, sai e completa:

-É verdade dona Mundica. Quem vai meter o primeiro gol vai ser o Kaká, o meu jogador preferido.

Manelito se levanta e fala a todos:

-Eu só sei que o Brasil tem que ganhar, afinal de contas nunca vi falar desse tal time da Croácia, vai ser goleada pra chuchu com o pé de ouro do Kaká.

A professora também não ficava atrás, dizendo.

-Eu só quero gritar o nome do Kaká metendo o primeiro gol.

A discussão continua lá fora, conta-se mais de sessenta pessoas para ouvir o jogo no único rádio ABC, e naquele instante, o senhor Totó sintonizava a Rádio Globo após um estralado e pipocos.

Evaristo com sorriso moleque abria o verbo.

-Seu Totó. Liga o rádio que já vai começar o jogo. Ei pessoal! Fazem silencio, assim não dá. Travam essa matraca!

Disse Dona Mocinha:

-Esses marmanjos não sabem ficar com a boca fechada um instante. Eu... hein?

A Rádio Globo abria o seu espaço naquele pequeno rádio ABCCanarinho de Ouro” com o nome do Brasil, avisando que o Hino Nacional Brasileiro já iria ser tocado, o nervosismo da galera espalhado e articulando que a Croácia é a primeira adversária da Seleção brasileira em sua primeira estréia na Copa do Mundo da Alemanha no Estádio Olímpico de Berlim; e a seleção do Carlos Alberto Parreira se prepara pra entrar em campo. Todos com os olhos virados para o rádio, ouviam.

O rádio ABC soava da janela com o brilho do Brasil na Alemanha, enquanto os olhos atentos e fixos admiravam a grande expectativa, não tirando por nenhum instante os olhares apreensivos. Uns sentados no chão, outros debruçados nos ombros de seus pais, outros sentados em tamboretes e banco de paus. Era um tumulto com vibrações por todos os lados, até parecia o rádio velho um televisor onde os olhares não cansavam a visão direcionada sem piscar.

Minutos em que Juarez diz em bom tom:

-Eu não acredito. Como é que pode esses Croatas perseguirem o Ronaldinho, tão marcando demais. Vai Ronaldinho! Dá logo uma bordoada nesse baitola safado.

Nervoso e mordendo as unhas, Chico Bacana fala:

-O Brasil tem que jogar mais forte no ataque e dá mais pressão nesses Croatas, não tá vendo que a saída tá difícil, o cara tá prendendo muito na defesa, aí fica difícil penetrar com a bola no campo deles. Tem que lançar bola pro Kaká.

Seu Totó já bastante irritado diz.

-Rapaz tu veio pra ouvir o jogo ou ser comentarista? Desse jeito não dá. Tu fala demais. Porra.... deixa os outros escutar, droga! Ora essa! Onde já se viu isso!

-Tudo bem seu Totó. A casa é sua, mais na minha casa quem manda sou eu.

Zé Pretinho gritava zangado:

-Parreira! Tira o Adriano e Ronaldinho que não estão fazendo nada. Desse jeito fica difícil fazer um gol.

Arcanjo também dá o seu palpite.

-Ora bolas! O Brasil arma as jogadas e chuta no gol e o tal goleiro não tá nem aí. Assim tá demais fazer um gol.

Já marcando os ponteiros ao final do primeiro tempo, Nena se levanta e grita:

-Vai Cafu passa pro Kaká, vai..., vai... Vai Kaká passa por eles, dribla pela direita e chuta no angulo. Vai! Vai! É gooooooooooool. Gooooooooooooool, Gol. É gol do Kaká. É gol do Kaká! Melhor jogador do mundo. É Kaká. Só dá ele. É Brasil! E ainda de pé esquerdo. Viva Kaká! É gooooollll.


E naquela hora a multidão gritava ao final dos 42 minutos, e Totó comentava:

-Esse é o Kaká. Esse é o meu garoto de ouro. Meu Deus! De longe ele chutou tão forte que arrasou o goleiro, ele tem o chute do Rivelino tu tá vendo Arcanjo. Ali foi uma bomba de primeira.

Arcanjo falava alto:

-Vocês viram que ele passou pelos croatas deu um show de bola e jogou no canto do goleiro. Legal! Viva o Kaká! Melhor jogador do mundo! Kaká! Brasiiiiiillll.

Naquele instante, Dona Mindu fazia humor da conversa do senhor Arcanjo, dizendo:

-Arcanjo, eu não vejo nada, apenas eu ouvir o comentarista falando. Aonde tu viu ele meter o gol? Vai? Fala logo sabichão?

Em poucos instantes, os meninos batiam nas latas, gritavam e outros choravam de alegria pulando no terreiro da casa. Os adultos pulavam e batiam com as mãos e sorriam, emendando em intensas gargalhadas.

Naquele momento, entrava o segundo tempo, e o rádio já demonstrava falha no som pelas pilhas enfraquecidas. Malaquias diz:

-Arruma seu Totó o rádio, mete pilhas novas no jabuti. Essas aí tá indo embora. Se eu soubesse tinha ido pra Caxias assistir na casa do meu sobrinho na TV colorida.

Totó já zangado disse:

-Então, pega um urubu e vai assistir o jogo lá no teu jacu, porra. Aqui quem manda sou eu, seu merda de bosta.

Nego Saci comenta:

-Assim não pode o Brasil tá jogando muito mal e marcado todo o tempo na saída de bola. Eles deviam dá mais bola pro meio de campo e nas laterais. Olhem! Esse goleiro deles é um tremendo vacilão, vejam que ele tem medo das jogadas do Ronaldo. Também, ele não tá jogando nada. Esse é o goleiro Dida, defende todas as bolas. Esse é o meu goleiro da copa.

Manelito que estava na janela grita:

-Totó! Bota pilha nesse jabuti que eu quero ouvir homi de Deus! Daqui não se ouve nada. Já tô chateado com essa seleção. Pensei que fosse dá uma goleada e não fez nada. Se não fosse Kaká o Brasil teria perdido esse jogo. Isso é que o Brasil devia dá mais valor.

E assim, o jogo acabou com a vitória do Brasil sobre a Croácia no placar de 1 x 0, e lá no terreiro a cachaça rolava de graça entre alguns adultos que faziam verdadeiros comentários sobre a grande partida de futebol com o nome do seu Astro Rei Kaká. Enquanto a fogueira preparada para a grande noite que se emendava em tantas conversas e risos, e pelas estradas escuras, eu deixava mas uma vez aquele povoado alegre e feliz para depois escrever sobre esse ídolo brasileiro que o povo tanto admira como o seu Príncipe - Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká e também do escritor.


Escrito no dia 15 de junho de 2006, às 20 horas na localidade Sambaíba, 2º Distrito de Caxias (MA)

Fotos: banco de imagens do google


ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 09/09/2010
Reeditado em 29/11/2012
Código do texto: T2488039
Classificação de conteúdo: seguro
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