LEMBRANÇAS DE UMA SALA...

A sala era linda, ampla, iluminada pelos ráios de sol

daquele dia. As paredes, de uma brancura virginal. Os móveis

limpos e os porta retratos organizados simetricamente sobre

o aparador quase negro. Diziam que era madeira de lei.

Não havia cheiro naquela sala ampla. Os candelabros de prata

sustentavam suas velas apagadas. Nenhum sinal. Nada que

denunciasse vida naquele lugar. As cortinas imóveis, escondiam

a ferrugem no peitoral das janelas. Como um flesh, me veio

a imagem de algumas crianças, gritos, algazarras, tilintar de copos,

passos frenéticos sobre a tábua corrida que cobria o chão da sala.

Sentei-me silenciosamente sobre uma cadeira e fixei os olhos

nos porta retratos. Alguma coisa de muito familiar havia ali.

Insisti uma, duas, varias vezes, até que vi o rostinho de uma

menina, uma feliz menina recostada no ombro de seu pai.

Lembrei-me já com o coração aos pulos, de uma sonata de

Beethoven, no dia em que recostei no ombro de meu pai para

aquela fotografia, que ali ficara por anos e anos. De alguma forma

eu permaneci naquela sala e eu ainda era filha de meu pai.

Ainda era a feliz menina da fotografia. Não havia mais algazarra,

tilintar de copos, passos frenéticos. Todos se foram.

Mas de alguma forma, eu permaneci ali. Imóvel, silenciosa, como

parte da decoração e das lembranças, que, sem perceber,

me trouxeram de volta para aquela linda sala, ampla, iluminada

pelos raios do sol, porém, vazia. Todos se foram, restando apenas

o carinho inérte, a vida presa na fotografia...

Aninha viola
Enviado por Aninha viola em 13/09/2010
Reeditado em 07/07/2013
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