Porrinha.

No curto período de um ano em que convivi com o Porrinha, poucas recordações tenho dele, mas não o mínimo a ponto de não ter algumas palavras a escrever.

Nem sei se vale a pena continuar lendo, mas aí estão.

Do apelido nada se sabe, talvez seja, suponho, pelo fato de que o mesmo, quando falava, babava pelo canto da boca, uma gosminha seca, talvez isso, talvez não.

Talvez, o que é mais correto, mas mais abjeto, de que o mesmo era um “punheteiro” nato, daqueles garotos que não podiam ver uma canela de mulher dando sopa pelas calçadas, que logo corriam, pulavam o muro rumo a um terreno baldio, descascar a banana. Pode ser, agora não tenho mais como sabê-lo com certeza, tendo em vista que estou morto e, ao modo de Braz Cubas, teço apenas umas memórias póstumas.

Sei que estudei por um ano completo com o Porrinha no terceiro colegial do segundo grau, em Guaíra. Era um cara que causava repugnância nos demais, principalmente nas garotas, pelo modo sujo como levava a vida.

Creio que neste período, jamais pude notar que o mesmo havia tomado banho para ir à escola. Estava sempre ensebado, e fazia questão disso, e ria, era um monstro da sujeira, e se regozijava...

E puta, como aquele cara fedia! Fazia-se um vão ao redor aonde ele se sentava. Era por demais escroto, sórdido, para ser mais sujo.

Gostava de pregar peças como “bombinhas de excremento”, quando, num sadismo, embolava em papeis (as folhas de seus cadernos só serviam para isso) gosmas várias, advindas de seu âmago (catarros, escarros, cuspes, etc), e as encaminhava às garotas mais “fresquinhas” da sala, por mero deleito. E sorria, gargalhava, peidava e babava num jorro espasmódico, com os berros de nojo das pobres meninas. Nós outros ficávamos apenas na espreita, talvez com receio de que fôssemos também vítimas, eis que, além de ser um escroto, Porrinha era também mais avantajado fisicamente que os demais. Por isso nos aquietávamos.

Aliás, soube, um pouco antes de morrer, agora me recordo, que o Porrinha havia se tornado um bem-sucedido empresário do ramo de banheiros químicos, na cidade de Barretos...

Cristiano Covas, 12.06.09.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/09/2010
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