O MENINO E O BAÚ

O sótão é um lugar escuro e estranho. Mas que fica á poucos passos de mim. E é ali que guardo um tesouro; meu baú. Presente da minha Vó, que já se foi. È ali, dentro do baú que guardo a minha infância e que encontro meu paraíso perdido. A minha memória é sempre esse baú empoeirado, que guarda coisas que não servem para nada, mas que não posso jogar fora. Folhas soltas; papéis amarelados; um poema inacabado... O jardim regado; e a rua em que eu morava, e na esquina, o meu fugidio sorriso de criança. A menina de trança, meu primeiro amor, sorri na janela. Mas á tarde, e no vento, ela pula corda, e pula mais ainda meu coração, que roda numa cantiga de infância e que parece não ter mais fim. Eu quero os meus brinquedos de volta. Onde está o meu cavalo-de-pau, que pasta na solidão? E vem a saudade, essa tempestade. E eu ali ás quatro da tarde de pés descalços no morno da grama. Fecho o baú. Foi tudo um sonho. E foi aí então que descobri... Minha Vó era um anjo, que guardava suas asas embaixo do casaco.

Marushio
Enviado por Marushio em 20/09/2010
Código do texto: T2509881