Um País Chamado Beleléu.

Numa dessas terras que não se pode dizer ao certo se é longe ou perto, onde nem mesmo as pessoas que ali vivem sabem discernir a distância que os separa do resto do mundo, existe um País, chamado Beleléu.

Ali vivem os beleleuzenses, povo pacato e matreiro, como o mineiro deste lado do Mundo. Passam grande parte do dia a laborar em suas plantações de fumo, cuja produção traz a renda que move o País, a coçar e a bebericar aguardente nas varandas de suas modestas choupanas. Porém felizes que só eles. Não falam mal de ninguém porque todos ali são iguais em todos os sentidos. A economia é igualitária, sem ser abusiva, não se corrompem pelo amor de Deus, a arte é expansiva, liberal, os corpos são apenas corpos, desde que higienizados, não lhes trazendo maiores transtornos, cada qual cuida perfeitamente do seu. A vida é pacata e serena, suave como a noite, não há rixas nem desavenças, sendo que o último homicídio se deu a setenta e nove anos, quando a anciã Clotilde, num acesso de ciúmes desvairado, meteu o facão na cabeça de Jesualdo, seu marido.

Lá as pessoas criam e vivem, vivem e se criam, como não poderia deixar de ser. Quando não se está produzindo fumo ou criando arte, se coça, se coça e se coça, como se o mundo fosse uma grande coceira a ser coçada infinitamente. Coçam-se inclusive mutuamente, num amontoado de coçadores de plantão.

Beleléu é conhecido pelo resto do Mundo apenas pelo dito popular que diz que quando o sujeito morreu ou sucumbiu de alguma forma foi para o Beleléu. “Ah!, coitado, o fulano foi pro beleléu! Diz-se isso pelo fato de Beleléu ser um País distante e inimaginável, muito parecido com a morte, sendo que na verdade existe e está bem próximo de nós, no Planeta Água.

Portanto, quer queiramos ou não, é bom cogitar um dia fazer uma visitinha a Beleléu, conhecer suas maravilhas e se coçar, coçar, coçar...

Savok Onaitsirk – 6.6.6.