PREMONIÇÃO

Suzan era uma pessoa normal, ou melhor, é, ela ainda não morreu, porém, um pouco estranha, as vezes chega a dar medo, conheço há apenas quatro anos, mais mesmo assim, costumo dizer que ela é imprevisível, uma hora está de um jeito, outra hora, de outro, muda totalmente, mesmo que ela desabafe comigo, não a entendo, são coisas arrepiantes, me dá medo, dúvidas, não sei o que pensar, ou será que sei, e tento fugir?

Ela é uma moça tão linda sabe, cabelos negros como a noite, os olhos parecem duas jabuticabas grandes, alta, magra, parece até que faz academia, seios pequenos, coxas bem durinhas, um bumbum definido, e..., bom, não vou ficar falando muito, senão vocês vão dizer que sou lésbica, mais não sou, enfim, ela tem 14 anos apenas, e isso é que me da um pouco de pena dela, porque uma menina tão nova e assim, como posso dizer... doida, acho que é a palavra certa.

Uma vez, Suzan, me disse que era atormentada, que ouvia coisas, apesar de não acreditar, eu sempre ficava arrepiada quando ela vinha com esses assuntos, que geralmente, eram freqüentes, confesso que, as vezes me escondia quando ela ia em casa me procurar, mandava dizer que eu não estava, é como eu disse, me dava medo dela.

— Mi, o que anda acontecendo?

— Por que, Suzan?

— Fui na sua casa e você não estava...

— Eu estava na casa da minha avó.

— Você ficou lá por três dias?

— Três dias?

— É, fui na sua casa três dias seguidos, e sua mãe dizia que você não estava.

— Então, né...

— Mi, parece que você está fugindo de mim.

— Na boa Suzan, é que você me assusta com esse papo de vozes, sonhos, vultos e tudo mais.

— Mi, é tudo verdade, e você é a única amiga que tenho e que confio para contar essas coisas.

— Eu sei, mais é estranho, não sei se acredito.

— Tudo bem, não posso forçar você a acreditar, vou deixar você em paz, qualquer coisa estarei em casa.

Acho que falei o que não devia, Suzan foi embora magoada comigo, ela só queria alguém pra conversar, e eu estraguei tudo, é eu sei que não acredito, mais poderia ouvir e ficar quieta, sem criticar, outro dia estávamos conversando e ela me disse que tinha alguém do meu lado, fiquei brava e pedi para que parasse com isso, então só de pensar no que ela vai falar me dá arrepios, sei que tenho que parar com isso, afinal, ela é minha amiga, acho que vou procurá-la e pedir desculpas.

— Suzan...

— O que foi, Mi?

— Olha, sei que te pedi desculpas ontem e prometi te ajudar, mais...

— Mais o quê?

— Pega leve comigo, Suzan.

— Tá legal, Mi.

— Então, quer conversar um pouco sobre essas coisas?

— Sabe, eu queria me livrar dessas coisas, queria ser normal.

— Você é, Suzan.

— Não Mi, não sou, por um acaso, você ouve vozes, vê vultos? Não você não vê, então me diz, eu sou normal?

— Vamos encontrar um jeito de acabar com isso, fica calma.

— Quê jeito?

— Ainda não sei Suzan, mais vamos encontrar, eu prometo.

Fui para casa, e fiquei relembrando as histórias que Suzan sempre me contava, tentando encontrar uma saída, uma maneira de poder ajudá-la, pensei que talvez isso seria coisa da sua imaginação, mais pode ser que não. Temos que ter sempre duas opções, se não for uma, com certeza será a outra, bom, nem sempre, mais vocês me entenderam, não entenderam? Se não entenderam, também não importa.

— Oi padre, sou Michele.

— E o quer minha filha?

— Sabe o que é padre, eu tenho uma amiga, que ouve vozes, vê vultos...

— Ela está possuída?

— Não padre. Ela só sonha, vê e ouve.

— Ah, já sei. É tipo premonição.

— Premo o que?

— Premonição, minha filha.

— Entendi, padre, é como se ela previsse o futuro, não é?

— De certa forma.

— Como assim?

— Se uma pessoa tem essas coisas, mais não sabe lidar com elas, pode acabar ficando doido, maluco.

— Então a minha amiga pode ficar maluca? Não posso deixar.

— Tem também outro caso.

— Que caso?

— Pode ser que tem alguém do outro mundo tentando se comunicar com sua amiga.

— Mais com que motivo, padre?

— Não sei ao certo, talvez para ajudar a desvendar o mistério da sua morte, e encontrar o assassino, ou algo inacabado que precisa ser resolvido para que sua alma possa descansar em paz.

— Como descobrir isso, padre?

— Tentando fazer contato, quando ela ver, ou ouvir, só assim vocês saberão como acabar com isso.

Puta meu, que parada sinistra, mais a conversa que tive com o padre mostrou que tem solução, tem uma saída, espera aí, vamos ter que conversar com o morto? Eu não quero não, tô fora, morro de medo, vou explicar tudo para a Suzan e ela se vira, já fiz o meu trabalho, sabe, é que não sei se vou agüentar, vai que eu desmaie, que vergonha, seria humilhante, não sou bunda mole, nem cagona, já pensou se um morto aparece na sua frente, meu, acho que tu mija de medo, e eu não quero arriscar gente.

— Mi, eu não acredito que você foi procurar o padre, para falar do meu problema.

— Desculpa Mi, mais eu prometi ajudar.

— Eu sei, mais vão achar que sou doida, e não sou.

— Suzan, agora você já sabe o que fazer.

— Você não vai me ajudar?

— Já não ajudei?

— Mais e agora, vai me deixar sozinha?

— Você sabe, Suzan, tenho medo dessas coisas. Imagina um morto aparecer na minha frente.

— E eu, não tenho medo?

— Não sei, você tem?

— Mi, eu morro de medo, você nem imagina o quanto.

— Tudo bem Suzan, vou tentar, mais não prometo nada.

Eu não acredito, que merda, espero que seja somente a imaginação dela, que não seja real, acho que tô cagando de medo, o que um amigo não faz pelo outro, até se ferrar a gente se ferra, só pra provar que somos amigos de verdade mesmo, as vezes preferiria não ter amigos, só colegas, assim você não precisaria provar nada, é mais fácil.

Aquela parada que disse antes, sobre achar Suzan bonita, fiquei com uma dúvida, será que ela também me acha bonita? Só pra saber, curiosidade, não pensem mal de mim.

— Mãe, vou dormir na casa da Suzan, hoje, tudo bem?

— Agora, em cima da hora, filha, é que você me avisa?

— Combinamos de ir ao cinema hoje, mãe, e depois, não quero ter que acordar você, quando eu chegar, por isso decidi dormir na casa dela.

— Tudo bem Michele, mais não cheguem tarde do cinema, e tomem cuidado.

— Pode deixar mãe, vamos tomar cuidado.

— Só mais uma coisa?

— O quê, mãe?

— Mas você não estava fugindo dela, me mandando dizer que não estava?

— Mãe, ela é minha amiga. Uhm... eu já vou indo.

— Espera, nem terminou de comer.

— Terminei sim, se me der fome como alguma coisa na rua, não se preocupe.

Na verdade, não íamos ao cinema, mas não fiz nada de errado, não saímos da casa dela, ficamos lá a noite inteira, esperando, assistimos tv, jogamos baralhos, entramos na sala de bate papo, e nada, já eram duas horas da manhã, estávamos cansada, não tinha mais o que fazer, decidimos então ficar jogando conversa fora, falar besteiras, coisas de mulher, vocês sabem como é, não sabem?

— Suzan, me conta como foi a sua primeira vez.

— Quê isso Mi? Tenho vergonha.

— Qual é, estamos só nós duas, não vou contar pra ninguém.

— Como posso dizer, acho que foi normal.

— Normal, como?

— Igual a de todo mundo, ué.

— Mais você gostou?

— Não, foi horrível, doeu pra caramba, sem contar que o cara só queria gozar e boa, não queria saber se eu estava sentindo dor ou não.

— A maioria dos homens são mesmo assim, só pensam neles mesmos.

— E a sua primeira vez, Mi, como foi?

— Parecida com a sua, doeu, o cara foi insensível, enfim, foi péssima... Suzan, posso te perguntar uma coisa?

— Pode, manda aí.

— Sabe o que é, não vai pensar mal de mim é só curiosidade.

— Fala logo Mi, o que é?

— O que você acha de mim?

— Te acho uma pessoa muito legal, amiga...

— Não é disso que estou falando.

— Tá falando do quê então?

— Você me acha bonita, meu corpo?

— Por que isso agora?

— Responde Suzan, é curiosidade minha.

— Acho Mi, seu corpo é bonito, as vezes tenho inveja, é tudo tão perfeito, no lugar, queria tanto ter um bumbum igual ao seu, avantajado, os seios grandes, enfim, seu corpo é de dar inveja em muitas mulheres, mais porque a curiosidade agora?

— Por nada, não fala pra ninguém que eu te perguntei isso.

Suzan também me acha bonita, ás vezes quando uma mulher acha a outra bonita é tão bom, porque nós mulheres temos tipo, uma competição, queremos o que a outra tem, um sapato igual, maquiagem, costumamos dizer, que não nos arrumamos para ficar bonitas para os homens e sim para outras mulheres.

Eu e Suzan, não agüentávamos mais ficar acordadas, já eram quase quatro da manhã, quando ela parou e olhou fixamente para mim, assustada, alguma coisa estava acontecendo.

— O que foi, Suzan?

— Ele está aqui.

— Ele quem?

— A pessoa que sempre vejo, que está sempre me perseguindo.

— Onde, Suzan?

— Do seu lado.

— Puta que pariu!

— Calma, Mi!

— Manda ele sair daqui!

— Ele está tentando me dizer alguma coisa.

— Que coisa?

— Não sei.

— Pergunta pra ele.

— Já perguntei.

— Eu não ouvi você perguntar nada.

— Em pensamento, é assim que ele está tentando se comunicar comigo.

— Suzan...

— O quê?

— Por que todas as vezes que ele aparece é sempre ao meu lado?

— Boa pergunta, Mi.

Fiquei lá sem poder me mexer, em silêncio, até que consegui alcançar o caderno em cima da mesa, eu e Suzan estávamos colocando tudo no papel, cada detalhe, um dia quando estivermos mais velhas vamos poder relembrar dessa aventura, ou melhor, loucura. Passado meia hora mais ou menos, não agüentava mais, precisava ir ao banheiro, e a deixei sozinha por alguns minutos.

— Mi, aonde você foi?

— Desculpa, estava apertada. Mais e aí, ele já foi?

— Foi.

— O que ele queria?

— Nada de mais, só que eu desse um recado para alguém.

— Que recado?

— Nada de mais...

— A tá, mais se agente der esse recado ele vai te deixar em paz?

— Acredito que sim.

— Suzan, precisamos dar esse recado agora mesmo.

— Eu sei Mi, mais hoje não. Vamos dormir primeiro, né?

— É, vamos dormir.

— Boa noite, Mi, quer dizer, bom dia.

— Bom dia...

Silêncio.

— Mi!

— Fala, Suzan.

— Obrigada, por me ajudar, por ser minha amiga. Vou sentir a sua falta.

— Quê isso Suzan, parece até que vou morrer.

— Que bobagem, para com isso, agora dorme...

Juliana AP Mendes
Enviado por Juliana AP Mendes em 08/10/2010
Código do texto: T2545586
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