Um outro panorama eleitoral

Estamos em um imaginário país da América Latina. Lugar próspero e diversificado. Por esta época, ocorre por aqui um tipo de eleição sui generis.

Ao invés de partidos políticos e candidatos, a escolha se dá para indicar o ritmo musical que irá predominar neste país, nos próximos quatro anos.

Ele irá ocupar, pelo menos, cinquenta por cento da programação musical de rádio e tevê e a toda edição de CDs e DVDs deverá obedecer, também, esta regra.

Como nos pleitos normais, o embate se dá em primeiro e segundo turnos. A fase inicial já foi encerrada. Saíram vitoriosos o PBN (Partido da Bossa-nova) e o PSU (Partido do Sertanejo Universitário). Em terceiro lugar, com quase um quinto dos votos, ficou o PNA (Partido da New-age), liderado por Marinara Green.

Os votos de Marinara Green são cortejados pelos dois outros adversários. No momento, a posição do PNA é a neutralidade, pois como tem propostas holísticas não aprova o uso dos hits do PSU em rodeios e abriu dissidência com o PBN, por discordar de seu líder João Ignácio e da música que inaugurou o movimento: Chega de Mamata.

O PSU tem como representante maior Luis Ladeira, produtor do primeiro disco da dupla sertaneja Sotãozinho e Choradeira.

Na realidade, Luiz Ladeira fez uma coalizão com o PSU, pois é oriundo do PO (Partido da Ópera). No entanto, necessita de um viés mais popular para suas pretensões eleitorais e o PSU está em plena ascensão.

Notas musicais identificam os partidos. Tendo sido usadas todas as naturais, apela-se para os sustenidos e bemóis. O PSU é representado pelo re sustenido e o PBN pelo sol natural.

Acalorados debates e showmícios percorrem o país. Ao vivo ou em edições gravadas, músicas dos dois segmentos são apresentadas. Existe uma regulação de horário eleitoral, com tempos proporcionais para cada gênero musical.

Uma série de pesquisas de opinião, também, ocorre com periodicidade quase diária. O PBN está em ligeira vantagem, mas boa parte dos votos de Marinara Green migrou para o Partido do Sertanejo Universitário, tornando a disputa acirrada.

A troca de acusações se sucede. O PSU acusa o PBN de ter influências estrangeiras, principalmente do jazz. O PBN chama de “brega” o sertanejo universitário. Partidários desta ou daquela tendência percorrem as ruas e parques das cidades com carros de som e cantores em trios elétricos. O povo já não aguenta mais tanto barulho...

E, entredentes, murmura: chega eleição...

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 18/10/2010
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