O Ritual.

O quarto era extra casa. Ficava aos fundos atrás de uma pequena mata. O solo barrento fazia um declive de muitos graus, logo atrás da casinha. Esta estava praticamente abandonada, ninguém ia lá e nem guardavam absolutamente nada. Havia apenas uma janela e uma pequena porta.

O personagem principal, e único, desta história organizava os bonecos na extremidade do ambiente. Todo o rodapé estava coberto por bonecos. Alguns horríveis, mutilados, carecas, com cores absurdas e pintados de caneta BIC. Outros eram melhores e havia ali no meio até Barbies. Lanternas com gelatinas vermelhas foram espalhadas e acesas aleatoriamente.

A parede, enrugada pelas chuvas incessantes do local, foi pintada de preto e as luzes vermelhas das lanternas refletiam-se de forma a fazer do ambiente quase um cabaré. Ele ligou um daqueles minúsculos aparelhos que faziam um barulho danado. A música era de uma banda americana chamada Alice in chains.

Galinhas e pintos vivos e mortos também estavam espalhados pelo chão frio, respingado de sangue destes animais. Ao centro, uma pequena fogueira, feita de papel e madeira, acesa com querosene, queimava levemente o chão de metal.

Os cabelos gigantes do nosso personagem principal pareciam dançar ao som acústico da banda. Ele abriu sua mochila, que tinha alguns rasgos e frases escritas de caneta, e tirou a máquina preta. Abriu-a e ligou-a na tomada. O cheiro das galinhas mortas começou a impregnar todo o ambiente, tornando-o quase insuportável.

Mas ele continuou e ficou observando atentamente a máquina ligar. Do som, a bateria seca e cortada da música Angry Chair passou a sair. Nosso personagem acompanhava com as mãos, como se tivesse tocando bateria no ar. E também cantava como a voz rouca de Layne Stanley. A máquina ligou.

Ele a programou do jeito que precisava. Aumentou um pouco mais a música. O odor já estava parecendo ter sido programado para aumentar também. No estomago do nosso personagem iniciou-se um série de reações químicas que o levaram à náusea.

Esta o atingia tão fortemente que parecia chegar a sua garganta. Ele sorriu bastante em troca. Acendeu duas velas. Uma de cada lado da máquina. Abriu então um pôster de Layne Stanley e reverenciou.

Limpou a garganta com cuidado para não vomitar e preparou as mãos.

Estas ganharam vida própria e uma energia que as deixaram frenéticas.

E começaram a pincelar a tela do laptop com palavras e frases e parágrafos e textos. Muitos textos. Textos que transformaram nosso personagem em uma autoridade na literatura mundial.

E que tomaram a noite dele. E quando o sol chegou, as velas se acabaram, Layne Stanley já não mais cantava com sua voz rouca e ele recolhia seu material. Agradeceu aos bonecos transformados em personagens de literatura e foi para casa dormir.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 26/10/2010
Código do texto: T2579288
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