O luto de Laura

Não! Não posso acreditar. Minha mãe está com graça com marculino? Meu pai nem morreu direito e já assim. Não dá pra acreditar...

- Não queria te falar nada. Mas sabe como é Raimundo.. Fico sem graça em te falar isso. Mas se eu não falasse me sentiria pior.

- Obrigado por avisar, Abdias. Agora vou pensar o que fazer. Porque isso não vai acontecer. Não vou passar essa vergonha.

- Ele não sai da casa de sua mãe. Ontem mesmo estava lá. Cortando as gramas e pintando a janela. Agradando demais. No meio da noite, ela fechou a porta da rua com ele lá dentro. Depois disso não sei falar mais nada.

- Alguem viu isso?

- Não. Só eu e Silvinha. Porque a gente estava no passeio e não teve como não ver. A gente não é cego. Ainda mais quando não faz questão de esconder.

Essa conversa com Abdias deixou Raimundo transtornado. Foi pra casa mais cedo. Se fechou no quarto. Entre um cigarro e outro o arroto da vergonha entalava sua cabeça. Seu pai morreu faz três meses no domingo. Homem sempre honrado. Trabalhador e homem de Deus. Morreu de repente. Sem a doença avisar. Numa tarde depois do café, passou mal e morreu. Foi um choque pra todo mundo. Mas o que mais lhe confortou foi a força de sua mãe. Calma o tempo todo. Não derramou uma lágrima sequer. Mas agora com essa história com Marculino isso passou um ser um problema. Casados 25 anos e nenhuma lágrima. Como pode ser isso. Precisava no dia seguinte passar na sua mãe. Tinha que esclarecer isso. E depois falaria com Marculino, com certeza falaria.

“Velha descarada. Não dá o respeito”. Pensava mexendo os lábios e olhando com raiva as fotos na parede.

Mais a noite quando saia de casa encontrou seu Ananias. Seu tio e padrinho de batismo. Uma pessoa severa mas que sempre tratou os problemas da família com serenidade. Quando viu o padrinho, não teve duvida.

Expôs o que estava acontecendo e pediu conselhos.

- Meu filho, me desculpe que é sua mãe. Mas que descarada ela, não. Meu irmão ainda está quente. Não sei o que falar pra você sobre isso. Coitado de Gersino. Se isso for certeza, Raimundo, você precisa fazer isso parar. Entendeu? Você agora é o homem dessa família.

Aquela fala do seu tio aumentou a responsabilidade de Raimundo. O assunto parecia mais grave do que antes. Era o mais velho. Não podia expor os outros irmãos. O seu pai morreu. O tio estava certo. Precisa preservar a família,.

Pensou todas essas coisas e rumou pra casa de sua mãe. Sabia que nessa hora estaria sozinha e podia conversar sem a intromissão daquele aproveitador.

Entrou na casa cuspindo fogo. Da cozinha avistou sua mãe no quintal.

- Mae. Vim aqui ter uma conversa séria com a senhora. E quero saber a verdade. Seja ela qual for. O quê Marculino faz o tempo todo aqui em casa?

- O que isso meu filho. Marculino sempre esteve aqui!

- Mas agora é diferente, mãe. Pai morreu e não fica bem ele aqui sozinho com a senhora.

- Não estou acreditando. Você está querendo dizer que tenho algum coisa com Marculino?

- Todo mundo tá falando mãe. Ontem você fechou a porta da rua com ele aqui dentro.

- Você me respeita seu moleque. Você acha que eu faria isso com seu pai. Foi 25 anos de casada e nunca dei motivos pra ele. Quem foi que falou isso pra você? Foi o vagabundo do Abdias né?

- Não interessa quem falou. Só quero saber a verdade. Voce está ficando com ele, mãe?

- Não, Raimundo. Não estou. Você me ofende quando fala isso. Ele fica aqui me ajudando, me dando atenção quando não tem nada pra fazer na roça.Ele faz isso porque continua gostando da família mesmo com seu pai morto. Se Marculino ouvir essa historia vai se ofender também e você vai se dar mal com ele, entendeu?

Raimundo saiu aliviado. Ia procurar o seu Tio Ananias também Abdias e explicar que tudo foi um mal entendido. Sabia que sua mãe não faria um coisa dessa. Saiu de lá sem falar nada. Mas a forma que ela falou. Não tinha dúvida. Tudo não passava de uma grande equívoco.

Depois de fechar a porta. as mãos grandes Marcolino

contorna a cintura de Dona Laura....