NATAL COLORIDO

Na fazenda onde nasci e vivi até os meus dez anos, meus Natais eram sempre bem coloridos. Nossa família sempre foi muito unida e Jesus era o ponto máximo do Natal.

A preparação para o nosso Natal era intensa, no sentido religioso e festivo. Na igreja, nosso coração era enfeitado com o tempo do Advento, que significa a preparação para a vinda do nosso Salvador. As palavras ouvidas caíam em nossos corações como sementes de fé, amor, solidariedade e amizade. Na volta para casa, atravessávamos uma avenida ladeada de grandes árvores, cujos galhos eram voltados para cima querendo tocar o céu, tal qual nosso coração que vibrava de alegria e muita expectativa pela chegada da nossa maior e mais significativa festa, que era o Natal.

Nossa casa, muito simples, era cuidadosamente limpa. O chão de tijolos era lavado vigorosamente pelos braços e mãos de papai, que naquela época traziam todo o vigor de sua saúde.

Mamãe limpava todos os armários, lavava as cortinas, lençois e colchas com tamanho capricho, que depois de alvejadas sobre o gramado verde e aquecidas pelo nosso amigo Sol, tornavam-se branquinhas, branquinhas e traziam à nossa casa uma luminosidade parecida com a neve que só víamos nos cartões de Natal.

Nestas tarefas papai e mamãe tinham nossa ajuda, pois a colaboração além de ser exigida por eles servia para que nos sentíssemos úteis e fazia o tempo passar mais depressa, o que vinha de encontro à nossa ansiedade.

Tudo limpo chegava a fase de maior alegria, a fase dos enfeites. Não dispúnhamos do aparato de enfeites que existe hoje, mas tudo era maravilhoso. Desde o pinheiro que papai trazia com o maior carinho, até as bolas coloridas que eram distribuídas em seus galhos pelo jeitinho de mamãe, que era toda cuidadosa. O topo do pinheiro recebia um ponteiro (como era chamado) majestoso e mais brilhante que todos os outros enfeites, pois trazia em seu centro a mais importante de todas as estrelas, a estrela de Belém, que surgiu para anunciar o nascimento de nosso Deus, que é a luz do mundo.

Natal, data propícia ao fortalecimento dos laços de amizade e isso era marcante na nossa família. Os parentes de perto eram mais visitados e os de longe se comunicavam com cartões onde eram impressos os desejos de feliz Natal e Próspero Ano Novo.

Que alegria receber estes cartões que traduziam uma grande amizade e nos irmanava no maior sentimento que Jesus nos ensinou e deixou como exemplo, que é o amor.

Que satisfação retribuir esses carinhos! Colocávamos dentro dos envelopes junto com os cartões desejos de saúde e de muita fé em Deus. Esse bondoso Deus que nos permite através do Natal, a renovação do nosso amor a Ele e aos nossos irmãos.

Os dias passando... a expectativa aumentando...

Chegando a véspera de Natal nossos olhos sorriam e nossos corações transbordavam de alegria quando se misturava ao perfume da casa limpa e das novas roupas o especial perfume das deliciosas comidas que vinha da cozinha preparadas por mamãe que, incansavelmente ficava horas e horas em frente o fogão à lenha.

Mesa devidamente arrumada à espera do convidado especial, família toda cheirando banho gostoso e demorado (apesar da fila que se fazia num único banheiro que ficava no lado externo da casa), roupas novas limpinhas, também cheirosas e bem passadas, desfilavam pela casa sob os olhares de aprovação.

Todos visivelmente emocionados botávamos os pés na avenida que nos levaria à igreja atendendo os chamados dos sinos que vibravam chamando seus fieis para a Santa Missa de Natal. Nossa família chegava cedo e se acomodava nos primeiros bancos para não perder um segundo sequer da celebração.

Era a missa mais bonita e emocionante do calendário litúrgico. A igreja nos oferecia sensação de conforto e paz através do perfume da limpeza que graciosamente era realizada pelas mãos solidárias das senhorinhas da Congregação do Sagrado Coração de Jesus. Belíssimos hinos de Natal eram entoados pelo coral e unidos às luzes, às flores e ao brilho da decoração, nos transportavam para o céu, pois essa era a imagem que fazíamos dele.

As palavras proferidas pelo nosso pároco Padre Aurélio colocavam em nossos corações o verdadeiro espírito de Natal que está nos valores da amizade, do amor ao próximo, da solidariedade, da fé e da esperança.

Ao final da cerimônia nos abraçávamos sem distinção e desejávamos a todos Feliz Natal.

De volta ao nosso lar podíamos dar vazão à festa, às guloseimas e nós, crianças, ainda aguardávamos a emoção dos presentes que o bom velhinho, o Papai Noel traria só quando estivéssemos dormindo. Ele chegaria num trenó e bem quietinho entraria pela chaminé da lareira, ou melhor, do fogão à lenha e os colocaria embaixo de nossas caminhas.

Estas eram as noites mais longas da nossa vida. Gostaríamos que as festas fossem até o amanhecer, pois maior que a ansiedade de ver os presentes era o desejo de ver o Papai Noel e nossos olhos teimavam em ficar abertos.

O cansaço nos vencia. Éramos acordados com os raios de Sol que entravam pelas frestas da janela de madeira iluminando todo o nosso quarto e convidando-nos a pular da cama e pegar nossos presentes. Achávamos o papai Noel muito sabido, pois ele sempre conseguia saber exatamente do que precisávamos. Ora uma bolsa (mochila) de escola, ora um sapatinho, uma sombrinha e vez ou outra esses presentes eram acompanhados de outros como uma bonequinha para as meninas e um carrinho para os meninos.

O cheiro da bolsa nova, o brilho do verniz no sapatinho, a sombrinha para nos proteger da chuva e do Sol, a bonequinha e o carrinho conseguiam nos manter entretidos e felizes durante o dia todo.

Jesus, família, festa, presentes e muito amor e paz davam aos nossos Natais um colorido especial que gosto de recordar, mas impossível fazê-lo sem sentir saudade e desejo de ver o verdadeiro espírito de Natal resgatado nos dias de hoje.

(anamauer-10/11/10)

www.anamauer.blogspot.com