UM DIABO DE MULHER

Todos os dias era a mesma coisa,lá vinha ela,linda e penetrante,com aquela pele alva,os cabelos acobreados como um pôr de sol de verão, e aquelas ancas requebradeiras.Caminhava de forma lenta e ondulada. Se me olhava? Claro que não,eu tinha treze anos,era um garoto imberbe,de olhar assustado,magro e baixinho.Quando não estava no colégio,a esquina da Rua do recanto era o meu lugar.Empinava pipa,jogava futebol,bola de gude, e “sonhava” com a vizinha da casa 32.

Ela era tudo o que um menino da minha idade desejava,para sua primeira vez.Meus colegas debochavam de mim.Não acreditavam que eu tivesse competência para seduzi-la.Enquanto eles faziam suas descobertas com as empregadinhas e babás da redondeza,eu queria Deodora,aquele diabo de mulher.Aliás se o capeta fosse casado,com certeza Deodora seria a esposa.Creio que ela tivesse entre vinte e cinco a trinta anos. E o perfume que exalava do seu corpo maduro e perfeito,me enchia de prazer.

Passei a possuí-la,dia e noite,nas minhas fantasias juvenis,até que o exercício da manipulação,passou a me enfraquecer,estava empalidecendo e definhando a olhos vistos.Minha mãe coitada,desesperou-se, e me levou numa benzedeira,lá pras bandas do Cosme Velho.Uma comadre havia dito que era mau olhado.

-Que quebranto,que nada.Seu filho ta é sem força,de tanto puxa-puxa.

-Moleque safado.Vai levar uma surra pra parar com essa sem – vergonhice.

Pancada mesmo, não deu.Fez pior,me pôs de castigo, e que suplício o meu,ali trancado,sem poder ver meu objeto de desejo.Depois de uma semana,resolvi fugir do castigo,e corri para rua,aproveitando a ausência de mamãe.Mal pus a cara na calçada,lá vinha o diabo,usando um vestidinho,com um decote profundo,tão colado ao corpo,que a bunda empinada e roliça,parecia que ia arrebentar a costura.Os seios fartos e firmes,brigavam para saltar fora.Arregalei os olhos,foi quando ela notou o meu espanto,e me perguntou com palavras encharcadas pelo mel da sensualidade

-Oi menino! Andava sumido,dodói?

O chão se abriu sob meus pés,e fui dragado por um redemoinho de sentimentos.Meu corpo logo emitiu sinais de excitação, e se retesou.

Fiquei com vergonha e corri pra dentro de casa.Talvez o castigo fosse um suplício menor que Deodora.Desconfio que ela nunca entendeu a minha reação. Após alguns dias daquele encontro,meu pai me chamou à sala,e me deu a mais amarga notícia da minha vida.

-Você vai mal aos estudos, por isso vai para um colégio interno na Capital, aprender a ter disciplina, e parar de fazer bobagens

-Não vou! Foi minha reação imediata

-Como é que é?Estas me desafiando? Pois vai amanhã mesmo. E chamando mamãe ordenou. Mulher,apronta teu filho,logo cedo ele rumará pra Capital,vai aprender a ser gente!!!

Corri para o meu quarto, e chorei até de madrugada,quando me ocorreu uma idéia.Vesti minha roupa de Domingo,escovei os cabelos, e tendo a madrugada como cúmplice,parti para a casa de Deodora.Ela morava só, o que talvez me desse mais coragem.Joguei umas pedrinhas na janela, e logo a luz se acendeu.Uma banda da janela se abriu deixando contemplar a própria imagem do pecado, ali ao alcance das minhas mãos. Usava uma camisola de renda preta,fazendo um belo contraste com o colo alvo,aumentando mais meu encanto e minha libido.

-Quem está aí?Perguntou receosa.

Eu havia timidamente me escondido atrás de um pé de estrela d’alva,que espargia seu perfume por quase toda a rua,mas fui delatado pelo cão do vizinho,que latiu atrás de mim.

-Não tenha medo,D.Deodora,sou eu o Vicentinho

-O que faz a essa hora da noite na rua?

-Vim me despedir.Posso entrar?

Ela me pôs pra dentro,sem nem desconfiar de minhas reais intenções,afinal,me via como um menino.Serviu-me leite morno e beijos de moça.Aliás,aqueles foram os únicos beijos que tive lá.Ironia do destino,eu ali tão perto,olhando meu pecado de moleque,sem nada poder fazer.Contei-lhe que iria estudar na Capital, e ela sorriu,com aqueles dentes de pérola.Passado algum tempo,ela despediu-se,desejando-me boa sorte e beijou-me a testa.Quando ia saindo,dei de cara com o Manezinho,um colega meu,que ia cedo com o pai,trabalhar na feira.Foi ele que espalhou,pro bairro todo,que eu havia dormido com a Deodora.E hoje vinte anos depois,não sei o que foi feito dela.Sei apenas que quando venho visitar meus pais, os vizinhos ainda olham e comentam: -Lá vai o Vicentinho, o único macho que conseguiu fornicar com a “Mulher do Diabo”.

Maíra Monteiro
Enviado por Maíra Monteiro em 22/11/2010
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