Papai, Me Desculpa, Matei o Noel

Noel fora adotado com aproximadamente cinco meses de idade, por uma família de classe média média da sociedade amazonense. Era um gato matreiro, desses que adoram um mistério.

Foi achado miando debaixo do pára-choque traseiro do carro quando José Gonçalves iria guardá-lo na garagem.

José é pai da Talita e marido da Clotilde. Talita chorava muito por um animalzinho de estimação. Por ser hiperativa, o psicólogo aconselhou que lhe dessem um para amainar seus nervos.

A família relutava, pois não gostavam de animais dentro de casa. Mas naquela tarde não viram outra alternativa senão adotar o gatinho preto que de alguma forma ficara preso por debaixo do pára-choques do carro. Era Noel, e esse seria o nome do gato, segundo Talita, mesmo sendo fêmea.

Por quase um ano Noel viveu com a família Gonçalves. Era sapeca, e Talita curtia coisas sapecas. Viveram poucas e boas, tomaram banhos juntos, comeram no mesmo prato, se beijaram, se amaram, foram bons amigos por todo esse período, até que veio o natal daquele ano, acompanhado obviamente por todas as suas quinquilharias doutras eras...

Talita, enfurecida com pinheiros natalinos e com toda aquela cultura americanizada, enforcou Noel num enfeite que sua mãe havia colocado na porta de entrada de casa, deixando um bilhete e fugindo para nunca mais voltar:

Papai, me desculpa, matei o Noel!

SAvok Onaitsirk, 20.12.09.

É importante esclarecer que o humilde que ora vos escreve é uma amante incondicional dos animais.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 24/11/2010
Código do texto: T2633773
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