MEU PRIMEIRO VOO

MEU PRIMEIRO VOO

Na época eu trabalhava na extinta gráfica Minerva S.A., como diretor de arte e acumulava as funções de fotógrafo e produtor.

Fui encarregado de criar um folder para a prefeitura de Bento Gonçalves na região serrana do Rio grande do Sul. Claro que o motivo era a divulgação turística do município. Aprovado o layout lá fui eu para Bento. Costumo preparar a bagagem com antecedência, mas esqueci minha cuia de chimarrão. Não cultivo as tradições a ponto de vestir-me de bombacha e outras chamadas pilchas gaúchas, mas não dispenso o chimarrão matinal. Chegando ao hotel desci à portaria para informar-me onde poderia encontrar os apetrechos. Fiquei surpreso ao ser informado de que não era necessário, apenas me perguntaram a que horas eu queria o chimarrão. Diariamente as 7:30 h em ponto eu recebia o chimarrão feito a capricho. Cortesia do hotel. Hás 9:00 da manhã chegou a camioneta da prefeitura local que iria me apanhar para cumprir o roteiro de fotografar as atrações turísticas da região que obviamente incluía muitos produtores de vinho. Para minha surpresa a minha cicerone era nada mais que a Secretária de Turismo, ex Rainha da Festa da Uva do ano anterior. Muito digna representante da comunidade Italiana que predomina a população local. Ela própria era uma uva sem dúvida. Dona de uma beleza e uma simpatia característica do povo italiano, me deixou sem fôlego logo ao me ser apresentada. Partimos então para a tarefa iniciando pelos produtores de vinho. Logo no primeiro, fui recebido com um copo de vinho.

– Nem pensa em recusar, seria considerado ofensa. Informou-me Luiza Bellini com um sorriso e um par de olhos verdes arrebatadores. Seguíamos então tomando vinho até as 17 horas quando me deixariam no hotel. Ao despedir-nos ela

quase me derreteu com aquele olhar e um convite para jantar no dia seguinte. Seria lançada uma nova marca de vinho e eu era seu convidado. Desci para o jantar e o garçom estranhou que eu pedisse cerveja, pois lá as jarras de vinho já estavam na mesa ao sentar-nos. Mas eu já estava com vinho até a alma. Claro que naquela noite perdi o sono imaginando fantasias com aquela escultura. Na manhã seguinte retomamos o ritual de tomar vinho e fotografar. Ela me acompanhava com entusiasmo e eu sentia que o terreno estava ficando fértil. Naquela noite, nem pensaria em recusar o vinho ao jantar e a companhia de Luiza me deixava completamente embriagado não pelo vinho, é claro! Após o jantar, dançamos e o clima romântico nos envolveu e nos beijamos. A partir daí rolou uma noite que jamais seria esquecida. Durante a semana que durou o trabalho as minhas noites foram fantásticas. Após o término da fase dos produtores de vinho decidimos ir por terra até o vale da ferradura. O local tem esse nome porque o rio ali forma o desenho preciso de uma ferradura. Embora fosse minha primeira fotografia aera, fiz questão de inspecionar o local por terra. Como tínhamos uma folga, as fotos seriam no dia seguinte, passamos uma tarde rolando na grama e namorando enquanto o motorista da camionete inteligentemente aproveitava para dormir. Na manhã seguinte fomos para o aeroclube local. Não havia avião disponível. Fomos então para Caxias do Sul, perto dali. Só havia um pequeno avião de treinamento. Uma geringonça que chamávamos Teco-Teco. Constituído de uma armação de canos metálicos envoltos em lona impermeabilizada pendurados sob enormes asas feitas de madeira balsa. Centenas de pequenos pedaços de madeira colados engenhosamente. Minha estréia em um avião, se é que podíamos chamar aquilo de avião. Respirei fundo! Nunca tive medo da morte. Quando chegar a hora ela virá e não será o medo que irá resolver. Isto sempre me manteve frio em situações de perigo e sempre me permitiu raciocinar com rapidez. Mas, vamos lá. Fui informado de que voaríamos sem a porta do avião, para permitir as fotos. Tudo bem! Não há outro jeito. A geringonça roncou e rolamos pela pista. A sensação de que a coisa está parando, acontece quando ele atinge a altura desejada. A partir daí dediquei-me a apreciar um cenário até então desconhecido para mim. Ver as pequeninas casas e ruas que parecem riscos de lá, nos dá uma idéia aproximada de como somos pequenos diante da natureza.

Era um belíssimo dia de sol e até chegarmos ao destino passaram-se apenas alguns minutos. Então a aventura começou realmente a mostrar sua cara. O piloto sobrevoava em círculos e eu tentava enquadrar o rio, mas acontecia que ao tentar um ângulo baixo, parte do trem de pouso invadia o quadro. Tentei aproveitar a curva para direita, aí a aza entrava em cena. Percebi que o cinto de segurança estava solto, mas graças à ventania que invadia o aparelho eu era mantido contra o assento. Fiz várias tentativas, sem sucesso. Resolvi então dar por encerrado e tentar outro tipo de avião em outra ocasião. Ao contornar o vale para tomar o caminho de volta. Percebi a janelinha sobre meu ombro direito. Perguntei ao piloto.

– Essa janela abre? Diante da resposta afirmativa, posicionei a câmera e fiz as fotos como eu havia imaginado. Missão cumprida.

Ao descermos no aeroclube, percebi que o pequeno avião havia tocado o solo e arremessado duas vezes antes de estabilizar e então suavemente completar o pouso. Até então para mim estava tudo dentro da expectativa até o memento em que o piloto ao descer, deu a volta e posicionou a mão sobre meu peito.

– Como está seu coração? Perguntou-me.

– Creio que está normal. Respondi.

– Então ponha a mão sobre o meu. Falou o piloto tomando meu pulso e o colocando sobre seu coração que estava realmente aos pulos.

– É a primeira vez que vôo sem um instrutor. Confessou.

Bem! Confesso que agora o meu coração estava aos pulos. Durante o caminho de volta para bento, brincamos com a situação. Passei mais uma noite com Luiza e no dia seguinte tomei o caminho de volta. Mas a essa altura você deve estar pensando, o que tem a ver Luiza com o meu primeiro vôo? Bem, o primeiro vôo aqui, tem um duplo sentido, porque Luiza foi também meu primeiro vôo extra conjugal. Sai de Bento eram 11 h da manhã e ao chegar a um restaurante de beira de estrada, comprei um jornal local e ao correr os olhos, lá estava. Luiza Bellini em companhia do marido em uma festa de casamento do sábado anterior. Tudo estava no seu lugar. Ela também era casada e ficou tudo no campo de uma doce e inesquecível aventura. Nunca mais a vi.

FIM

Ps: Embora a história seja verdadeira o nome Luiza bellini é fictício.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 30/11/2010
Reeditado em 30/11/2010
Código do texto: T2645470
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