Um Velho Homem Surrado.
Quando perguntei ao Chiappini se o Orlei seu filho tinha estudo, ele ficou quieto uns dez segundo e limpou o olho esquerdo com a costa da mão direita e soluçou:
“Não, não tem estudo nenhum! Criei doze filhos, sendo que restaram cinco vivos. O restante foi morrendo no decorrer da vida, alguns ainda criança, outros em acidentes da vida adulta”.
O Chiappini tem setenta e nove anos, magro e forte, porém com enfisema, impregnada depois que parou de fumar, como me disse. Hoje estava com falta de ar, porque o Orlei seu filho foi preso por inadimplência na pensão alimentícia de seu filho. Preso há oito dias. O Chiappini vive de um salário mínimo de aposentadoria e anda de bicicleta. Teve um Passat 81 até pouco tempo atrás, quando teve de entregá-lo a traficantes que ameaçavam matar o Orlei seu filho.
O Orlei tem 36 anos de pinga e drogas, sem dentes, um trapo. Vive com o velho Chiappini, não trabalha e ainda por cima explora o velho, dizendo que o mesmo “está fazendo peso na terra”. É um imprestável que me caiu da Assistência Judiciária Gratuita, que, por honra e obrigação, tenho que defender.
Está preso pelo débito de aproximadamente dois mil reais. Sua ex-mulher é uma dependente química, que precisa que lhe arrastem do bar para que faça qualquer coisa. Os filhos do Orlei, netos do Chiappini, são dois adolescentes, um rapaz e uma moça, 14 e 16 anos respectivamente, que também já entraram no mundo cruel dos vícios.
O Chiappini é viúvo e carrega a carga de ter de se virar com o Orlei seu filho. É ex militar, austero e bom cidadão, respeitável, além de em tempos idos ter feito parte da banda em que meu avô tocava sanfona, enquanto ele, o Chiappini, era exímio tocador de pandeiro.
Disse que tem apenas trezentos reais para tentar algum acordo com a ex do Orlei, e, disse em alto e bom tom, palavras de quem sabe dizer:
“Caso ela, aquela cadela, não queira acordo, que fique meu filho se “recuperando” na cadeia, pois senão terei de matá-lo!”.
Savok Onaitsirk, 19.02.10.