Uma história que merece ser contada!

Uma história que merece ser contada.

Camilo era um menino de braços estranhamente finos e longos para sua estatura. Sua postura desajeitada era, muitas vezes, motivo de galhofas. Vinha de uma família humilde e desestruturada: Cinco irmãos, cada um de um pai; nenhum presente. A mãe, de algum jeito, tentava manter a família.

Como um pássaro livre, o menino se criava: Subia em árvores, pulava cerca, nadava em rio. Vivia aprontando traquinagens pelas ruas da pequena cidade, do interior mineiro, onde morava. Já estava com dez anos. O grupo escolar o avaliara como incapaz e rebelde, não permitindo sua inclusão no ensino regular.

Foi então encaminhado para a recém criada escolinha Pestalozzi, que, naquela cidade, alem de cuidar de crianças especiais, atendia crianças com outros tipos de problema.

Chegou trazido por uma autoridade policial que o encontrou perambulando pelas ruas.

Desconfiado e contrariado, se rebelava contra a imposição de permanecer na escolinha.

D. Lygia, diretora da escola, a quem todos tratavam de “Tia Lygia”, observou o menino desengonçado, de pele parda, braços finos e olhar vivo. Com carinho e autoridade, atributos que lhe era peculiar e que todos respeitavam, disse:

- Não fique assustado. Você está entre amigos. Em primeiro lugar você vai tomar banho, vestir roupa limpa e lanchar. Depois, vamos conversar.

Camilo sentiu confiança no olhar daquela senhora. Obedeceu.

Aos pouco passou a se integrar a escola de forma livre e espontânea.

O medico da escolinha atestou que a atrofia muscular nos braços do menino, e seu jeito meio desengonçado, poderia ser proveniente de algum tombo quando bebe.

Tia Lygia, com o passar dos dias, começou a perceber o potencial e o caráter daquele jovem de riso franco e olhar sincero. Sentiu que ele era capaz, e que merecia ser ajudado e encaminhado, a uma maior integração social.

Assim, após entrar em acordo com a mãe do menino, D. Lygia levou-o para morar em sua casa.

Camilo ajudava cuidando das galinhas, molhando a horta, fazendo mandados. Era pessoa de confiança e pau pra toda obra.

Um dia ganhou uma bicicleta, que só poderia usar conforme o comportamento.

Desta forma, com obrigações, direitos, deveres e carinho, Camilo, ia sendo educado.

Depois de alfabetizado, foi matriculado no grupo escolar, o mesmo que o havia julgado incapaz. Ali, concluiu o ensino fundamental.

Tornou-se grande companheiro da Tia Lygia, que após ficar viúva, passou a morar sozinha; já que as filhas casadas moravam em outra cidade.

Nas férias, as netas de tia Lygia encontravam no menino um grande companheiro, pronto a acompanhá-las e protegê-las nos passeios e brincadeiras.

O tempo foi passando... Com ajuda de Tia Lygia, Camilo arrumou emprego numa fabrica de tecido.

Nos dias de pagamento ela o esperava na porta da fábrica e o alertava:

- Camilo. Sei que hoje foi dia de pagamento. Antes que você saia por ai gastando, deve separar uma parte para colocar na poupança. Sua mãe e seus irmãos precisam de ajuda.

Muito contrafeito, Camilo entregava o ordenado à tia Lygia. Ela separava a quantia que ele precisaria para passar o mês e o restante era colocado numa poupança.

Qualquer amigo de Tia Lygia era instigado, por ela, a ajudar o rapaz: Com um saco de cimento, uma janela; qualquer ajuda era bem vinda.

Aos pouco, o menino, agora um rapaz, foi construindo a casa para a mãe e os irmãos.

Quando tia Lygia adoeceu, e teve que ser levada para outra cidade com mais recurso, Camilo, sem que ninguém esperasse, sem nunca ter saído de sua pequena cidade, sem ter idéia de como se locomover em uma cidade maior: Apareceu no hospital. Pálido, sem dizer uma palavra, permaneceu sentada ao pé do leito da velha senhora. Olhar fixo no ontem... Gratidão e amor transpareciam em seu semblante.

No dia em que Tia. Lygia voltou para casa, fraca e carente de ajuda: Ali estava ele pronto a ajudar até na hora do banho.

Tempo depois... Camilo casou. Tornou-se pai de um menino.

Logo após, Tia Lygia faleceu.

Mas a historia não termina ai.

Com a vida mais sedentária.... Já com um filho. Sem nadar no rio, subir em árvore, correr pelo pasto, pular cerca: O jovem apresentava, a cada dia, maior dificuldade para certos movimentos.

Mas ele perseverava...

A fabrica havia fechado.

Sua esposa passou a fazer salgadinhos. Ele, conhecido e querido por todos, saia de bicicleta para vende-los. Sua vida ia se estabilizado. O negocio de salgados prosperando. Já tinha seu carrinho e sua casa ia sendo construída aos pouco. Seu filho era alegre e cheio de vida.

Porem... A vida tem sempre um porem... A partir dos oito anos, o menino começou a apresentar problemas motores e musculares semelhantes aos do pai.

Na criança, com a vida mais resguardada, sem os exercícios da vida livre e solta como havia sido a pai: o problema se acentuava dia a dia.

Médicos e exames foram feitos. Não só na pequena cidade, como num grande centro.

Feito o diagnóstico, ficou comprovado que ambos, pai e filho, sofriam de atrofia muscular progressiva. AMP

Triste a historia?

Pode ser... Porem, mais do que triste, um exemplo de união, amor e coragem.

Camilo e sua esposa organizaram sua vida. Conquistaram seu espaço. E apesar de seus limites físicos: Camilo dirige seu carro, adaptado, oferecendo ao filho, já rapaz, o apoio e amor necessário para que ele, mesmo com uso de cadeira de roda, supere os obstáculos, trabalhe, estude e se integre a sociedade da melhor maneira possível.

Mantendo o mesmo riso franco e o olhar sincero do menino de outrora, Camilo,nas reuniões familiares, cita o nome da Tia Lygia com tanta gratidão e reconhecimento, que a todos emociona!

A saudade e o carinho deixados por D. Lygia no coração de seus filhos e netos, não se igualam a força do sentimento de amor, gratidão e respeito, guardados no coração puro e integro do menino que um dia fora taxado de incapaz, e que hoje, humildemente declara:

“Eu era uma massa bruta. Tia Lygia me acolheu , deu forma e me poliu. Tudo que sou hoje, devo a Ela.

Camilo, Você é jóia rara!!

Lisyt

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Lisyt
Enviado por Lisyt em 04/12/2010
Código do texto: T2653205