MEDICO OU MACUMBEIRO?

MEDICO OU MACUMBEIRO?

Zozimo Barreto era um cidadão conservador, católico e que dizia não acreditar em bruxarias, macumbas, raizeiros e rezadores, para ele todos eles eram charlatães que se aproveitavam da crendice e ignorância das pessoas, para extorquir dinheiro e presentes; aos sessenta anos, ele era forte e saudável

Com toda aquela saúde, ele zombava de quem procurasse alivio para suas doenças com essas pessoas e vivia dizendo que se até os médicos com todo seu estudo, se enganavam e nem sempre conseguiam bons resultados com seus tratamentos, não tinha porque aquela procura por macumbeiros e afins, era tolice.

Zozimo vivia com sua família em uma vila chamada Estrelandia, onde só tinha um velho e cansado medico, que mal dava conta de atender toda a comunidade, mas o velho doutor Ferraz era um bom e dedicado medico de família e atendia da melhor maneira possível sua vasta clientela; ele tratava de qualquer doença .

O povo da Vila Estrelandia se tratava com ele, mas não dispensava o atendimento paralelo dos curiosos, como se diz: acendiam uma vela para Deus e outra para o Diabo e acreditavam que o melhor é cercar as doenças por todos os lados e com todas as possibilidades e essa atitude deixava o exigente Zozimo horrorizado.

Durante anos e anos ele manteve sua intransigente posição a respeito de medicação alternativa, mas os anos passavam ele envelhecia e sua saúde já não era tão perfeita; cada dia que passava aparecia uma novidade e nenhuma boa, porque era uma dor aqui, outra ali, o corpo enfraquecia e a memória falhava.

Zozimo procurou o medico, e o pior era que com a morte do doutor Ferraz, chegou um medico novo, o jovem doutor Ronie e o ranzinza Zozimo não confiava nem um pouco nele, começando pelo nome estrangeirado e terminando no jeito moderno de atendimento, porque o doutorzinho usava aparelhos novos.

Sempre que o agora ancião Zozimo se sentia mal, procurava o doutor Ronie, que dizia sempre a mesma coisa: que era preciso ter paciência com os achaques da idade e depois lhe receitava uns pozinhos amarelos para tomar com chá de camomila, mas as dores dos ossos fracos continuavam e só aumentavam.

Para complicar o já complicado relacionamento entre o velho e impaciente paciente e o jovem doutor, aconteceu o namoro e casamento de uma das netas de Zozimo com o medico e ai piorou tudo, porque o velho era muito rico e achou que o doutor Ronie se casou com sua neta Rita, de olho em sua herança.

Por azar, os tais pozinhos amarelos deram um problema gástrico em Zozimo e ele cismou que o medico queria mata-lo para ficar rico a sua custa, não aceitou mais os cuidados do agora doutor e neto e ficou sentindo suas dores sem nenhum atendimento, até que não suportando mais, foi procurar o Zeca macumbeiro e raizeiro.

Lá recebeu um passes em meio a nuvens de fumaça do cachimbo do Zeca e uma garrafa cheia de folhas misturadas com cachaça, com a recomendação de tomar uma xicara da beberagem de manhã e a noite; sem outra opção ele passou a usar a tal mezinha e como a bebida era forte e ele fraco, ele dormia e se esquecia das dores.

O povo de Estrelandia se sentiu vingado, vendo o velho Zozimo se tratando com um curandeiro e riam dele o tempo todo, mas ele não se importava e dizia: o medico é o caminho e o macumbeiro é o atalho e mais vale um atalho bem dado, do que um caminho mal caminhado; curar ele não se curou, mas se tornou um alcoólatra, de tanta garrafada que usou.

Maria Aparecida Felicori { Vó Fia }

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 09/12/2010
Código do texto: T2661389
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