Antônio e o Sonho.

Quando criança seu pai o obrigava a presenciar matanças de animais, principalmente porcos, vacas e galinhas, em matadouros públicos e privados. Antonio nutria um ódio tão profundo por aquilo tudo que aos doze anos se rebelou contra o mundo: não mais comeria carnes, nenhum tipo, nem derivados, tornando-se um vegetarianista ferrenho.

Não durou muito e Antônio fugiu de casa, sem deixar explicações, nem um pensamento sequer. Sentando no degrau do portão, numa tarde, simplesmente se reergueu, olhou pro céu, respirou fundo e começou a andar.

Saiu com o que tinha, ou seja, um par de chinelas havaianas azuis, uma bermuda florida e um chapéu panamá branco tuxado na cabeça; sem camiseta, carteira, dinheiro, relógio, celular, óculos, caneta, fotografias, passado, chaves, e muito menos o Seu Madruga de estimação que ornamentava seu criado-mudo. Zazá, porém, o ganso manso de pelúcia que vivia em seu bolso, estava lá. E assim foi, peito aberto enfrentar o mundo.

Zazá era um caso à parte, meio que surreal.

Antônio perambulou durante doze horas seguidas pelo mundo, sem se importar para onde. Ia em frente...

Acontece que algo começou a acontecer. Ouviu um rugido advindo de seu bojo. Era a fome, a maldita e inevitável fome.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 10/12/2010
Código do texto: T2663934
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