As Fases do Sol - II

Fase 2

(Alguns meses depois...)

E lá estava ele, meses depois. Marcos. Aquele homem solitário de cabeça baixa. Sentado no canto mais distante da pequena capela do hospital. O local estava deserto, exceto pela presença dos raios de sol que insistiam em transpassar os vitrais coloridos, para iluminar a sombra de um homem agora sem luz.

Foi então que ouviu uma voz. Uma voz que fez arrepiar os pelos de sua nuca. Atrás dele estava o senhor idoso e encurvado. Com o mesmo sinal no pescoço.

- Posso me sentar? – foi uma retórica, pois ele logo se sentou ao lado do neto, olhando para a imagem de Cristo, que brilhava na frente dos dois. O sol também evidenciava seus rostos, que naquele momento, desejavam mais do que tudo desaparecer.

- Ana está bem. Está de repouso agora. O médico disse que ela precisa descansar. Foi um longo parto. - disse o avô

Silêncio...

Marcos fungou o nariz e limpou o rosto molhado, havia chorado durante horas e os olhos estavam inchados.

- É um menino lindo e muito esperto. Obrigado, Marcos. Por me permitir ser bisavô nessa vida.

Marcos chorou; dessa vez foi inevitável chorar alto. Chegava até mesmo a soluçar.

- Você ama o seu filho, Marcos?

Rapidamente ele respondeu que sim com a cabeça, enquanto limpava o rosto encharcado.

- Estou chateado com você... – o avô suspirou - Por que está reagindo dessa forma quando deveria sorrir? É uma criança normal como qualquer outra...

Fez Silêncio... Então continuou.

- Eu não esperava que o meu neto não aceitasse isso. Vindo de outras pessoas talvez, mas de você não, Marcos. Você sempre foi um rapaz correto, como o seu pai. E agora chora por nada? Chora porque seu filho tem a síndrome de Down?

- Não é por isso – Marcos sacudiu a cabeça

- Então pelo quê?

- Estou com muito medo, vô.

- Não há motivos, Marcos... O médico disse alguma coisa. E agora você está aflito assim...

Marcos interrompeu.

- Em... cerca de quarenta por cento dos casos, as cardiopatias congênitas afetam as crianças nascidas com a Down... São as principais causas de morte das crianças que possuem a síndrome.

- Desculpe filho. Mas não estou entendendo uma palavra do que quer dizer. – ele sorriu – Esqueça isso, Marcos. Ana precisa de você. O seu filho também. Já decidiram como vai se chamar?

- Felix...

- Bom... Muito bom. Como Felix Mendelssohn, o grande pianista... Pois saiba que Felix também será um grande artista daqui a alguns anos.

Marcos o viu sorrir. Ele era tão otimista. Como podia ser tão otimista?

Então olhou para a imagem de Jesus na frente deles.

- Por favor. – orou baixinho. – Por favor, não leve meu filho, senhor. Me leve no lugar dele, mas deixe-o viver.

O avô observou a cena, compadecido. Sabia que o neto tinha se transformado num homem de bem. Sabia, porque esse sentimento ruim de perder o filho, e essa troca que ele sugeria a Cristo eram os mesmos sentimentos que havia conhecido no passado. Mas ele não teve tanta sorte assim. Então pôs a mão sobre o ombro do neto.

- Ele não irá levá-lo.

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 18/12/2010
Reeditado em 28/07/2011
Código do texto: T2679574
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