CARA DE UMA FOCINHO DO OUTRO

CARA DE UMA FOCINHO DO OUTRO

As vezes as pessoas se parecem mesmo sem parentesco algum, mas é uma ligeira semelhança, coisa pouca, um jeito de olhar, de sorrir ou um traço fisionômico parecido, mas quando a semelhança é grande demais, ai as desconfianças começam em murmúrios, cochichos, depois passam a categoria de fofocas

E assim foi quando dona Lucinda deu a luz a uma menina, que não se parecia em nada com a família, porque tanto dona Lucinda como seu marido Eleutério eram morenos, de cabelos negros e seus quatro filhos anteriores possuíam as mesmas características e a menina que recebeu o nome de Larissa era clara e loirinha.

Para o diferencial ser maior ainda, a criança tinha enormes olhos azuis e o povo achou estranho, mas em principio se calou, porque Eleutério o marido de Lucinda era o medico do lugar e em São João dos Abrolhos, medico era pessoa muito respeitada, porque todos precisavam dele e ele era o único da cidade.

A comunidade comentou, fofocou e por fim os murmúrios foram diminuindo, mas o esquecimento nunca chegou, porque quanto mais a pequena Larissa crescia, menos se parecia com os membros de sua família; apesar de loura e de ter olhos azuis, a menina era bem feia, diferente de seus irmãos que eram bonitos.

Para piorar a situação, Larissa se parecia cada vez mais com um conhecido cidadão da cidade, que se chamava Zé Caçador e quando ela fez dez anos as duvidas acabaram, não tinha mais jeito, ela era mesmo filha do tal Zé, mas o doutor Eleutério se fez de morto, continuou fingindo que estava tudo bem e tudo certo.

Os anos se passaram, a velhice chegou, Eleutério, Lucinda e o Zé Caçador morreram e Larissa coitada, se viu sozinha na grande casa de sua família, porque seus irmãos se casaram e foram cuidar de suas vidas em suas casas e como ela não conseguiu um marido, ficou só por um longo tempo, só saia para ir a igreja.

Depois de completar sessenta anos, com os louros cabelos já grisalhos, ela conheceu na igreja um solitário viúvo com mais de setenta anos, que já cansado de viver sozinho lhe propôs casamento e ela aceitou, se casaram e

viveram juntos por quase cinco anos, então ele sofreu um infarto, morreu e ela ficou só.

Depois da morte do marido, Larissa não se habituou novamente a solidão e resolveu dar um rumo novo a sua vida indo para um convento, onde viveu na companhia das bondosas freira por mais dois anos, onde finalmente morreu, mas em São João dos Abrolhos, ninguém se esqueceu da historia da menina loira, no meio de uma família morena.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 16/01/2011
Código do texto: T2732560
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