Fim da Picada...

Vivendo e aprendendo. Hoje, no consultório, recebi uma paciente alérgica a culicídeos. Não, não é o que você está pensando. Nem o que eu pensei. Naquele instante, a internet havia "caído", assim como meu conhecimento sobre o assunto. Aquela palavra assustadora estava estampada em um laudo de testes alérgicos. E aí, doutor? Como quem nada quer, indaguei acerca de alergias prévias, mas a moça negou tudo. Disse que tinha umas coceirinhas, mas não sabia o porque, razão dela ter procurado um alergista, que estava de férias em algum paraíso. Mas que inferno... Nervoso, mas ainda altivo, comecei a assoviar. Perguntei-lhe sobre a vida, a família, o time de futebol do cônjuge, mas fui brutalmente interrompido: Doutor, afinal, o que são culicídios? Suando frio, pensei: Que obsessão! Subitamente, os meus intestinos começaram a tagarelar sem parar, o que foi percebido pela inquisidora. Levantei-me, dizendo que precisava atender, urgente, uma urgência e que já retornaria. Corri para o banheiro, logo atrás do consultório. Já sentado no vaso, enquanto resolvia meu enfezamento, procurei desesperadamente aquela palavra (culicídio?) nas revistas disponíveis, as quais eram, para a minha decepção, de fofoca. O que seriam culicídios, meu Deus? Algum grupo organizado politicamente incorreto? Assassinatos culinários? Proctologistas? Tentei ligar para alguns médicos amigos, mas o celular não deu sinal de vida. Nisto, um grupo de mosquitos invadiu minha casinha, com os quais encetei uma batalha quase homérica. Minutos depois, exausto, pelado e vermelho, encerrei aquele multicídio. Pobres mosquitos, pensei alto. Mosquitos? Culex? De volta ao consultório, orgulhoso de meus conhecimentos, afirmei, com uma voz segura e grave, de locutor de AM: Bem, agora vamos falar da tua alergia a pernilongos...