A festa das entidades – O Bolo.




           Numa dimensão erma da nossa tridimensionalidade, entidades de várias classes reuniram-se para um congresso cósmico e cultural. Elfos, fadas, magos, duendes, gnomos, ninfas, orichas, entre elementais de natureza diversas foram convidados. O objetivo do encontro é discutir as precariedades cósmicas geradas pelos pensamentos negativos emitidos pelos seres humanos. A faculdade dos pensamentos é sobrenatural e desconhecida pela humanidade. O poder atômico, por exemplo, é ínfimo se comparado ao poder dos pensamentos, composto por matéria “consciente”. Falta alguns milhares de anos antes do alcance desta supra consciência. Sem ciência deste poder, os homens gastam sua energia vital, com pensamentos negativos inconscientes que são emanados para todo o universo.
            A compreensão profunda dos pensamentos, emoções e negatividades humanas, no intuito de dissolver condicionamentos e imagens errôneas gerados inconscientemente, é o tema principal a ser abordado.
           Antes do debate, começam por uma café da manhã com fartas opções. Manjar de frutas estelares, biscoito de asteroides, suco de poeira cósmica e galácteas especiarias. Aproxima-se um respeitado mago, “Lord White”. Trazia consigo uma guloseima especial. Dispões à mesa uma espécie de bolo feito por ele mesmo. A confeitaria é feita de elementos mágicos sensitivos que acessam as qualidades e defeitos humanos. Elementos que potencializam a sensibilidade com base em emoções terrestres. Entidades pouco se recordam das sensações humanas, que chamam de poder do Ego através da matéria. O mago aconselha experimentar do bolo com parcimônia.
           Dois participantes recusam-se em experimentar, o bruxo Equilibrium, que seria o orador do encontro, e sua assistente a fada Minguam. Muita conversa enquanto se satisfazem a mesa. Comem à espera do palestrante principal, um antigo ermitão, chamado Matus-além, que vive em uma estrela eremitória distante e morou centenas de anos na Terra.
           Chega Matus-além e todos já estavam a sua espera na sala de conferências. Desculpa-se pelo atraso, justifica que deparou-se com um congestionamento de asteroides. Pede que os aguardem, pois precisa alimentar-se. Apressadamente comia, eis que surge o duende Camaleão, que já havia comido bastante “do Bolo”. Oferece uma parte ao ermitão, sem mencionar os elementos mágicos contidos no mesmo, que come um bom pedaço
           Matus-além é apresentado e começa a palestra sobre as emoções humanas.
           Inicia explicando sobre a ira e ódio, que é a energia invertida do amor. Empolga-se num estado de alegria extasiante.
           Jatos de luzes emergiam de suas mãos, como fogos de artifícios recaídos de estrelas cadentes. A poeira estelar contamina o tempo e todos passam horas, dançando, cantando, declamando poemas, rindo de besteiras e abraçando-se.
           Sob o efeito “do Bolo”, as entidades passam a sentir tais sentimentos humanos em amplitude.
          Fadas cantam, elfos encenam teatros astrais, orixás proclamam poemas em yoruba. Ninfas dançam, choram e riem de alegria. Gnomos reproduzem natureza, harpas flutuantes tilintam. Seguidores de Baco transformam água em vinho e todos embriagam-se. O ermitão segue como maestro exaltando-se em si mesmo, bailando e flutuando entre todos.
          Abruptamente, um estrondo aterrador! Era o Mago Equilibrium indignado com a festa: -Quando vamos começar com os estudos?
-Mas já não começamos?! Retruca a fada Xanadu.
-Até agora não falamos nada sobre as emoções humanas!!!!
-Como não? Estamos em êxtase de amor, só se pode entender as emoções através do amor.
           Novamente um estrondo, e Equilibrium acusa Lord White e seu “Bolo mágico” pela fuzarca.
           É quando o ermitão descobre que estava sob efeitos mágicos, de volatilidade humana, e subitamente tem um ataque de panico. No processo de depuração que se encontrava jamais poderia ter qualquer contato com a essência humana. Começa a vomitar exaustivamente acusando a todos de envenenamento, num golpe de loucura e ira. A festa é interrompida por uma enorme sensação de culpa. O cume da negatividade humana, o medo, pânico é absorvido. O ermitão é levado para um hospital astral.
          Pares e pares de mínimas fadinhas choram temendo a sanidade de Matus-além. As entidades caem no desespero, na imputação de um oceano de emoções desequilibradas. Registros simultâneos de prazer e culpa. Ódio e amor. Medo e alegria. Atividade e inércia.
           Negatividade e positividade humanas vividas num curto espaço de tempo.
          Depois de muita confusão de emoções, chega Matus-além, são e salvo.
O efeito do bolo já havia passado e todos puderam sentir uma mescla de altos e baixo de emoções. Concluíram que o ser humano é universo complexo, de profundidade ilimitada interior e limitada por carne e osso. Dualismo, bem e mal compartilhados em essência equilibrada, em compacta realidade. Após profunda excursão ao reino das emoções humanas, o terceiro corpo etéreo, voltaram todos a sagrada condição unificada, entrando em estado de profunda meditação pela evolução da humanidade.