O Filósofo Que Convenceu Um Ateu De Que Ele Não Era Um Ateu

- Dizei-me, meu amigo ateu, como tu tens a certeza da inexistência de Deus?

- Dizei-me, meu amigo filósofo, como tu tens a certeza de que aja um Deus?

- Não tenho a certeza.

- Tens a incerteza?

- Na clareira dos meus pensamentos, julgo não ter uma resposta acerca do que é ter realmente uma certeza. Nós, humanos, somos névoas e vivemos e sobrevivemos nas névoas. Julgamos que o tempo vai nos revelar todas as coisas e sofremos quando sabemos que o nosso tempo é não saber de nada em todas as coisas.

- Tu me pareces com Schopenhauer e toda a escola pessimista.

- Crês em quê, meu amigo ateu?

- Creio no que posso ver, tocar e sentir. Não sou como Santo Agostinho a tecer elegias absurdas a um ser invisível que apenas em sua mente existia. Não sou como Madonna, a fazer da Cabala uma fonte de conhecimentos pop, busco os meus conhecimentos conforme coisas racionais e diretas, coisas advindas de tradições que velam por mentiras me são inúteis.

- Se crês em si mesmo e no que vossos olhos podem ver, meu amigo ateu, então tu tens uma certeza.

- Tu deverias também ser um ateu, meu amigo filósofo.

- E os filósofos são algo além disso, meu amigo ateu?

- Descartes, Leibniz e Gonçalves de Magalhães acreditavam em Deus. Eram filósofos que acreditavam em Deus.

- E por que os filósofos não deveriam acreditar em Deus, meu amigo ateu?

- É um atentado contra a Razão e na Crítica Da Razão Pura Kant afirma que o conhecimento humano é limitado e conhece apenas aquilo que a este limite é dado conhecer.

- Concluistes isto lendo Kant?

- Isso está em toda a Crítica Da Razão Pura.

- Achas que o Criticismo, que deu uma grande contribuição ao ateísmo, é uma Verdade Absoluta?

- Do Absoluto Hegel sabia, mas referia-se ao Absoluto por outra via, materalista. Ele disse que "Deus é a vontade enclausurada nos limites reduzidos da inteligência humana, justificando assim a impossibilidade do conhecimento em identificar-se com o divino".

- Kierkegaard chegou à última conclusão, meu amigo ateu.

- Sim, mas Hegel abriu o caminho.

- Tu não tens palavras próprias e amparastes sempre nas de outros?

- Filósofos sempre são repetidores; porque eu, que estudo a Filosofia, não posso ser também como eles?

- Tu tens certeza da vossa certeza em ser um ateu?

- Tanto quanto tu tens a certeza de que és um filósofo.

- Tu não és O Ateu Perfeito.

- Como?

- Vosso ateísmo é uma crença e, por isso, tanto vós como todos os ateus são falhos na consciência que possuem daquilo que pregam.

- Vós pregais o quê para ser tão afirmador dessa sua conclusão?

- Prego no vento que o vento nunca dará chance aos outros ventos de ser pego na estrada de todos os ventos.

- Metáforas vazias, preenchidas de um misticismo tosco e um misto de loucura nietzscheana, não são respostas racionais.

- Ofendes até Nietzsche, um grande ateu, um verdadeiro ateu?

- Ele era irracional em muitas ocasiões.

- Meu amigo ateu, tu não és ateu.

- Eu sou ateu!

- Não és, pois em um diálogo com um filósofo verdadeiro, tu serias destruído pelos argumentos deste em um segundo.

- Mas, tu és um filósofo!

- Eu lhe disse que era filósofo, meu amigo ateu?

- As suas palavras, o seu jeito, o seu andar, o seu caminhar, tudo em você lhe denuncia como um filósofo!

- Tu deliras.

- Agora, tu me ofendes!

- Tu és um crente.

- Eu não creio em Deus!

- Quem aqui falou em Deus?

- Nós estavámos falando Dele!

- Estavámos falando de coisas que se referem a pensamentos individuais, o meu, o teu, o de Schopenhauer, Santo Agostinho, Descartes, Leibniz, Gonçalves de Magalhães, Kant, Hegel, Kierkegaard... Tu metestes a Madonna no meio da conversa por incapacidade de tecer argumentos melhores e entregou-se a muitos erros. Nós não falávamos de Deus e nem tocamos sequer no nome de Deus. Eu sou um ateu, pois sequer toco no nome de Deus com os meus pensamentos e as minhas palavras. Ele não existe para mim, mas para ti, que se diz um ateu, Ele existe e merece ser combatido. Não sou um filósofo e você não é um ateu; sou um ateu e você não é um filósofo. Tu perdestes até o que és, tu não sabes o que és, tu estás diante do nada que és. Muitos assim são como ti e dizem que são algo, falam de Deus e desconhecem totalmente a Deus. Não é necessária a Filosofia para saber que de nada eles falam, pois não conhecem que é Deus, não sabem Quem é Deus.

- Você não é um ateu, parece afirmar que existe Deus!

- Se todos os ateus pudessem elevar além da Matéria todo o seu palavreado ateístico e pronunciassem à Criação que "Deus Não Existe" em voz altíssima, isto não mudaria nada. Muitos ainda creriam em Deus e muitos ainda chamariam por Deus. O ateísmo que sigo é uma inutilidade, estamos contra uma invencibilidade que realmente é impossível de ser vencida.

- Você é filósofo!

- Não sou.

- Você é!

- Por que?

- Falas como um!

- Bem, para ti eu sou um filósofo, então.

- E não és um ateu!

- Eu sou.

- Não és!

- Por que?

- Falas de Deus como um cristão ou um evangélico!

- Bem, para ti, então, eu não sou ateu.

- Eu sou ateu!

- Tu?

- Sim, eu!

- Meu amigo, leia novamente todos os livros que lestes. Antes de ser alguma coisa vá além,leia também a si mesmo. Aqueles que se lêem são algo verdadeiramente. Vejo que como ateu, tu és apenas um cristão mal orientado e um evangélico perdido que por causa de um pequeno problema resolveu acreditar que não acreditar em Deus era uma solução inicial de um novo caminho. Ateus já nascem ateus, assim como filósofos já nascem filósofos. Tu brincas de ser ateu; eu nunca brinquei de ser filósofo.Se filosofo, filosofo sem acreditar na Filosofia; se existe a Filosofia, ela então pode ser Deus.

- Tu não és ateu, chamas a Filosofia de Deus!

- E o que mais próximo é de ser a única salvação verdadeira de um ser humano do que a Filosofia que o leva a não errar e a orientar-se, através de várias filosofias e de sua própria filosofia, neste mundo sendo moralmente correto e digno de ser chamado de ser pensante?

- Mas, a Filosofia não é Deus!

- E eu disse que ela o é?

- O que és então a Filosofia para ti, meu amigo ateu?

- Berço De Deuses, filosofar é ser divino dentro das esferas limitativas humanas e acima destas em poucos casos.

- Tu não és ateu!

- Eu afirmei ser ateu? Eu disse que era ateu.

- Tu és filósofo!

- Eu afirmei não ser filósofo? Eu disse que não era filósofo.

- Meu Deus, tu me enlouquecestes, meu amigo que já não sei mais o que é!

- Tu eu sei que não és ateu, falastes agora o nome de Deus.

O texto acima foi publicado originalmente em meu falecido blog no Windows Live Spaces, que se intitulava Sobre Filosofia E Poesia E Música E Mundo.