A Volta do Morto-Vivo.
Morreu alguém na casa vizinha. Estavam todos tristes e ansiosos, pois o morto ainda não aparecera. O morto era um desses andarilhos sem destino, que vagavam sem porque pele globo terreno, procurando...
Viúva e filhos aguardavam a chegada aos prantos, mesmo doze anos sem ver Ariclenes, o cadáver.
Alguns amigos e conhecidos fumavam e comentavam sobre a vida passada do cidadão, um bom homem, diziam, quase em uníssono.
“Era um homem bom, apesar dos defeitos...”
Enquanto não fumavam, comiam bolachas de água e sal e tomavam chá mate o leão.
Era sempre assim na pequena cidade quando um ente próximo passava desta pra pior.
Passados aproximadamente dia e meio, quando todos se inquietavam, enfastiados de fuxicos vários, chás, cafés, cigarros e bolachas mofadas, quando Ariclenes chegou...
Estava muito sujo e cansado. Acendeu um pito e perguntou, pigarreando, de quem era o velório...
Uma senhora sentada ao lado da viúva teve uma parada cardíaca e caiu morta, diante o olhar esbugalhado dos presentes...
Aproveitaram os aparatos e a sepultaram, com todas as honras, por todo o sempre...
Obs.: isso acontece com freqüência. É bom cuidar melhor dos vivos e cultuar menos os mortos, respeitando-os sempre!
Savok Onaitsirk, 08.02.11.