O FAROLEIRO

O FAROLEIRO

Era alto, esguio, forte, pele crestada pelo sol. Sobressaía, na sua impressionante figura, a farta cabeleira branca ressaltando o azul dos olhos sempre sorridentes e a expressão serena, "sonorizada" pela voz calma e pela suavidade dos gestos.

Amigo querido de meu pai, há muitos anos, a notícia da sua chegada nos deixava imensamente felizes. Quando "seu Augustinho" vinha ao continente hospedava-se lá em casa. Isto acontecia de raro em raro, por isso a saudade era muito grande em todos.

Ele era responsável pela existência de um enorme galinheiro que meu pai foi obrigado a mandar fazer. Toda vez,trazia uma "capoeira de galinhas", uma caixa feita de madeira e tela, cheia de franguinhos.

Quando trouxe a primeira, nem passou pela minha cabeça que poderiam virar refeição. Filha única, elas se tornaram uma curiosa companhia. Comecei por dar nome a cada uma ave:Zangada, Vermelha, Carijó, Mansinha, Esperta, etc. Com o tempo, ficamos amigas - eu as chamava e elas atendiam - meus pais se divertiam!

Observando meu interesse, minha mãe comprou um galo. Seu nome - "Rei". Ele era lindo! Ostentava uma crista vermelha novinha!

Cobertode penas brilhantes em matizes do"vinho ao café", com um rabo que confundia uma profusão de cores variando entre o preto azulado, o dourado, o laranja, o castannho, o vermelho, tudo integrado num brilho metálico majestoso.Um final feliz!

Comíamos alguns ovos e muitos eram distribuídos entre vizinhos e outros amigos, o resto era destinado ao "choco". Desta forma minha mãe me inseriu no mundo da fecundação, da procriação com naturalidade, beleza e me expôs ao fascínio da Lua e suas fases que propiciavam, segundo ela, o sucesso da ninhada.Instigou minha atenção na observação das mudanças de tempo o que também interferia.

A Lua ganhou um novo sentido.

A Lua era bela! Importante!Poderosa!

A meteorologia também tinha fortes implicações.Se, acaso, "roncasse trovoada",alguns ovos "gorariam" e deixariam de nascer muitos pintinhos. Quando começava a chover meu coração apertava e eu ficava rezando para que o tempo amainasse.

Trovoadinha...tudo bem, mas se houvesse temporal?...Aí, o trovão com toda sua energia falava alto e era pura sorte dos que resistissem.

Agora seu Augustinho nos garantiu uma surpresa. Na sua última visita ficou impressionado com a quantidade de aves - quase sessenta!

Avisou a Papai que reservasse um novo espaço!

Seu Augustinho era faroleiro.Morava solitário num arquipélago e trazia consigo também a magia de um baú de histórias

dacosta
Enviado por dacosta em 18/02/2011
Reeditado em 21/12/2011
Código do texto: T2798947
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