A Selva.

É manhã. Terça feira. Choveu boa parte da madrugada. Rasguei três cocos da Bahia nos dentes. Fiz o que pude, precisava da água e da polpa para viver. A fome era gigante, mas ainda tinha energia para gastar. O sol se ia e deixava em vento frio e um medo da escuridão. Insetos brotavam de todos os cantos. Um grilo metia medo até no mais bruto dos homens, sozinho no meio do nada, e esse homem era eu. Ali realmente não era um bom lugar para humanos. Monstros e bichos se davam bem, tudo muito hostil, selvagem, cruel, frio... A fome era defesa do corpo para se aquecer, mais proteína para suportar ainda mais tempo. Precisava. Dormir era dispensável, o que se precisava era vez por outra manter o corpo inerte para descanso; a selva devorava quem se atrevia a deixar-se embalar por pensamentos tolos e devaneios vagos; a selva era um ente vivo ansiando por dar procedência a seus desígnios, devorando o ser frágil. A selva era a implacável luta pela sobrevivência, e pobre daquele ser que se mantinha só, fadado à extinção.

Caiu ali depois que experimentara a maquina do tempo num tempo imemorial. Não se lembra muito bem, sabe da experiência. Não sabe de nada, época, fatos, ano, que tipo de período fora desembocar. Não andou muito, teme, treme e se arrasta de tempos em tempos em busca de algumas nozes, coco e outras frutas, abundantes nas proximidades, como a goiaba, por exemplo. Ainda não viu dinossauros, por isso imagina que não está no jurássico. O pior seria se estivesse no Cambriano, aí as coisas ficariam feias. O Cambriano foi assustador, com seus insetos e plantas gigantescas. Acho que nada pior do que ser devorado por um inseto gigantes; Ou, febril devido a algum contágio, se ver lentamente um banquete para seres de todas as espécimes, começando pelo pescoço e bojo, partes mais moles e suscetíveis. Seria o pior trauma da vida de um homem. Pena que não tenho nenhum tipo de veneno ou arma para em situações assim, como poetas malditos de outrora e guerreiros orientais, dar fim à minha vida quando me ver a ponto de ser estraçalhado pelas circunstâncias da vida, como o ser devorado por vermes e insetos gigantes. Sequer tenho como procurar plantas letais, pois nada sei de biologia ou farmacologia. Estou realmente fodido!

Não vejo nada que indique em que tempo estou; só vejo selva, selva, selva... As árvores são tão grandes e grossas que temo o fato de imaginar que realmente estou no período Cambriano. Se isso acontecer terei que esquecer meu corpo e usar a mente para controlar o emocional e lutar, lutar, lutar, impreterivelmente, até meus nervos se esgotarem e meus músculos explodirem... Lutar, lutar, lutar..., diante o horror e sob quaisquer circunstâncias... Lutar, lutar, lutar...

Savok Onaitsirk, 22.02.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 22/02/2011
Código do texto: T2807371
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