Naul e Seu Pai Inescrupuloso.

Quando Naul completou dezoito anos seu tio materno, Savok Onaitsirk, veio até ele e bradou os seguintes impropérios:

“Naul, seu pai não prestava! Quis me matar quando você contava três meses de idade, pelo simples fato de eu estar exigindo seus direitos alimentares.

Era um policial terrorista, materialista e ambicioso. Passava por cima de qualquer um que entrasse em seu caminho. Tinha “sangue nos olhos” e não demonstrava expressão de sentimento algum. Um cara frio e sanguinário, que queria um sobrado e uma camionete ‘de luxe’.

Em certa altura disse que se eu porventura interpusesse qualquer demanda que afetasse administrativamente seu cargo, mandaria alguém acabar com meus dias. À época, acolhendo os anseios desesperados de minha mãe, que tinha problemas na válvula mitral, nada fiz; acatei passivamente, porém remoendo por dentro, que fosse feita a vontade de seu pai, ou seja, pagaria a pensão que bem lhe conviesse.

Minha mãe naquele período ficou muito triste com a filha, sua mãe, por uma gravidez fora do casamento e ainda por cima com um cara inescrupuloso. Cuidou de você como se fosse a própria mãe, vindo a falecer quando você contava ainda em tenra idade. Talvez você ainda carregue resquícios de suas células em seu corpo, pois em diversas ocasiões em que ia visitá-la pude ver você em seu colo, sendo mimado e acariciado. Sua mãe não tem culpa alguma, foi apenas uma lasciva, assim como eu sou e o gene de nossa cepa o é, mas deveria ter pensado bem antes de se envolver com seu pai. Por sorte, educação e parcela única de nossa raça, você cresceu dignamente e é a boa pessoa que é hoje. Confesso que por um tempo ficamos preocupados com sua herança genética, caso viesse a contrair o mau-caratismo e destemperança de seu progenitor. Graças aos céus isso não se sucedeu!

Seu pai matou três inocentes no decorrer de sua carreira de comandante da PM em São Paulo, perdendo-se as contas das milhares de agressões, injustiças, ofenças e atos de corrupção e pura maldade que cometera. Era um cara que não aceitava retruca, diálogos ou opiniões contrárias, por mais que estivessem dentro da legalidade ou razoabilidade. Um monstro aos moldes de Hitler, Saddan, Bin Laden e Milosevick, os quais deve fazer companhia no inferno.

Era um sujeito desequilibrado, porém com boa memória, o que lhe possibilitou adentrar ao cargo que o ceifou.

Lembro de seu olhar sanguinolento me encarando em repreensão, querendo me destruir, quando lhe propus a justiça de pagar ao filho apenas o devido, nada mais do que os trinta por cento de seus vencimentos, como previra a Súmula vinculante do STJ vigente à época.

Para minha sorte seu pai morreu com um tiro na cara após uma discussão no trânsito em meados dos anos setenta, o que me possibilitou estar aqui agora te desabafando esses impropérios.

Monstros normalmente tem mortes banais e rápidas... Santos se martirizam e normalmente têm morte lenta e dolorida...

Agora estou livre!

Seja você, meu caro sobrinho Naul, simplesmente você, sempre...”.

Savok Onaitsirk, 24.02.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/02/2011
Código do texto: T2813648
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