Quarta feira



 
Quarta Feira. No bolso do Rafael apenas sete reais e sessenta centavos, troco do ônibus da manhã. Hora do almoço, ele caminha sem destino traçado, evitando gastar o pouco dinheiro que tinha.
 
Entre uma rua e outra ele passa por uma casa lotérica. Sem controle consciente, sente uma vontade de entrar que nasce do nada e toma de assalto todo seu ser. Sem fila, a tentação aumenta. Em um instante ele está dentro da loteria. Pega um cartão daquela loteria que tem de acertar vinte números. Olha o cartão, pensa em algo do tipo: que números jogar? Marca cinco números e se põe a preencher aleatoriamente outros números. Dirige-se ao caixa e faz o jogo. Gasta um real e cinqüenta centavos.
 
O horário do almoço está terminando e retorna ao trabalho. Um dia como a maioria dos outros. Soluciona alguns erros de processo, responde e-mails, fala com sua chefia imediata e planeja a forma de ação para uma correção em especial.
 
O dia de trabalho termina e volta para casa. Agora tem apenas seis reais e dez centavos. Liga seu MP3 player, um rock de fundo, neste momento toca Nightwish. Chega ao ponto final do ônibus que diariamente pega, tem um parado. Dá boa noite a fiscal, que muito educada, retribui. Entra no ônibus. - Boa noite amigo, fala ao motorista e paga o ônibus. Agora no bolso apenas três reais e setenta centavos. Sentado, pega um dos livros que lê em paralelo, Teoria e Realidade do físico, filosofo da ciência e humanista argentino Mario Bunge. O tempo da viagem passa rápido.
 
Depois de sair do ônibus, caminha cerca de quinze minutos. Normalmente nesta caminhada reflete sobre o que acabou de ler, agora criticando e organizando melhor as idéias. Ao chegar a sua rua, vem a cabeça o jogo efetuado. São oito horas e está muito próximo o sorteio.
 
Chegando em casa, como sempre, beija sua esposa e filhos. E neste ambiente, entre conversas, janta e afazeres caseiros se esquece completamente da loteria.
 
O tempo passa, vê com seu filho um episódio de uma série televisiva: Bones. Finalmente chega a hora de dormir.
 
É chegada a manhã da quinta feira. Prepara o café da manhã, dá medicação a um dos seus gatos, ele é diabético. Acorda sua filha, ela vai acompanhar a mãe ao médico. Seu filho não tem faculdade e nem estágio hoje, encerrado temporariamente para o carnaval.
 
Veste-se e sai para o trabalho. No bolso os três reais e setenta centavos de ontem. Paga o ônibus e agora apenas sobram-lhe um real e trinta centavos. Chega ao trabalho e se lembra do jogo que fez. Acessa o site e como espanto acertou 19 números, já é um valor que lhe dá uma sobrevida financeira.
 
 


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 03/03/2011
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