Carnaval e a Cachoeira de Santo Antônio

Carnaval é agito ou reclusão espiritual. Carnaval é reclusão espiritual com agitação. Carnaval é tudo isso e muito mais. É confraternização entre as pessoas.

Nesse carnaval, em meio às brincadeiras em Raposos, uma lembrança veio em minha mente, provavelmente devido à proximidade em que me encontrava da Cachoeira Santo Antônio.

Essa cachoeira encontra-se no distrito de Morro Vermelho - MG. Entre uma alameda de árvores, o caminho até chegar a ela é íngrime e sombrio; bucólico. Sua mata fechada faz com que a água permaneca sempre fria. Do alto de sua queda, uma imagem de Santo Antônio fora ali colocada para a proteção de seus frequentadores.

Em minha mocidade, muitos acampamentos fizemos com nossos colegas, ali.

Lembro-me de dois episódios bacanas:

Fazíamos a caminhada a pé – como sempre – e perguntávamos aos colegas se nada havia ficado prá trás:

- Jorge! Trouxe a carne?

- Tonho! Trouxe a cachaça?

- Jadir! Trouxe a linguiça do Zé Branco? (Zé Branco era dono de um açougue e fabricava linguiças mistas – boi/porco – defumadas. Para assar nas brasas, não tinha melhor tiragosto.)

- Wagner? Jurandir? Véio? Djalma? E aí, ia acontecendo a chamada.

Chegando lá, para fazermos a travessia, Djalma levou um escorregão nas pedras com lodo e caiu. De salto, ele mergulhou se esforçando para segurar algo que levava na mão.

- É a cachaça, gritou Jorge!

- Nãããão!!! Gritamos uníssonos.

- Não deixe quebrar o litro! Reforçamos.

Passados alguns minutos de mergulho, Djalma reaparece com seu relógio de pulso quebrado e cheio de arranhões corpo a fora, mas com a cachaça intacta em uma de suas mãos.

- Viva !!!! Só alegria.

Outro caso, foi quando Tarcísio, ao retirar todos os ingredientes da mochila para melhor acomodação dos utensílios, ouvira nossas súplicas para não se esquecer de nada.

Como era de praxe, a chamada se realizava:

- Fulano? Beltrano? Cicrano? Nada ficou para trás, não?

- Nãããão!!!! Estamos sempre alerta, senhor! Como se fôssemos escoteiros.

Caminhamos mata a dentro observando a natureza. A Serra da Piedade nos surgia majestosa, com seu brilho prateado, como se fosse uma velha conhecida nossa.

Chegamos, sacudimos a poeira, ateamos o fogo e colocamos as carnes para assar.

- Vamos tomar uma? Alguém perguntou

- Vammmos !!!

- Pegue-a para nós, Tarcísio ! Outro falou.

- Xiiii ! Esqueci a cachaça. Tarcísio respondeu.

Não preciso comentar sobre a nossa reação, não é?