Matilde, a Náusea e a Galinha de Ouro de Tolo!

Sentada no fundo do quintal de sua casa popular alugada, Matilde coça a velha vagina desativada, preocupada com a neta que se baldeou para um baile funk com um rapaz que conhecera semana passada.

Matilde lava e passa roupas pra fora desde mocinha, quando sua mãe, seriamente, a levou para um canto e lhe disse, quase aos prantos: “ou você trabalha honestamente, ou vira “galinha!”.

Matilde, que, por ironia do destino, já tinha nome de galinha, escolheu a primeira opção, ou seja, o labor diário.

Hoje, devido a quase quarenta anos de tanques e esfregadelas, anda meio corcunda pelas ruas, de lar em lar, limpando a sujeira impregnada nas roupas dos plutocratas do caralho.

O que mais odeia em sua profissão, e isso mantém velado, por sigilo profissional, é encontrar roupas íntimas jogadas em cestos, borradas com excrementos vários. Mas já nem isso mais lhe preocupa. No princípio achava nojento, porém com o tempo, devido à sucessão de náuseas que sentia, nem toma mais café da manhã, prevenindo assim possíveis enjôos.

Sua filha fugiu de casa aos dezesseis, nos braços de um cafetão.

Ficou sabendo por intermédio de terceiros que a pobrezinha morrera espancada num puteiro da zona lesta de São Paulo, com agulhas enfiadas em todas as cavidades de seu corpo.

A partir daí Matilde virou mulher de pedra, esquecendo de vez sentimentalismos idiotas de programas televisivos, se surrando para cuidar da netinha deixada pra trás, aos seus cuidados, à qual hoje, como dito alhures, fora-se pela primeira vez ao baile funk com um sujeito que gosta de usar bonés e correntes grossas de prata no pescoço. Matilde até acha graça naquilo, e, diante as investidas furiosas da netinha, acabou por ceder.

“Era o baile do Mr. Alcatra”!, dizia a neta, efusiva, e mano Pic, o dito namoradinho, não a perdoaria caso recusasse convite tão especial.

Matilde, sozinha, abandonada pelo marido quando sua filha ainda era de colo, não viu outra saída a não ser permitir, porém, com uma condição, que a neta não fumasse nada, nem fizesse sexo sem preservativo. Sendo assim, com o devido consentimento, a liberou.

Agora estava ali, fumando um TE sem filtro, olhando as galinhas no terreiro, debaixo da goiabeira, sozinha, como sempre, pensando no turbilhão de roupas do dia seguinte e preocupada com a hora que porventura a netinha querida chegaria. Que não fosse tarde demais, pois tinha que descansar para agüentar o batente do amanhã; de todos os amanhãs, desde que decidira a não ser galinha.

O amanhã sonhado sempre vinha com uma esperança em sua cabeça, e assim quarenta anos transcorridos, sendo que até hoje os pesadelos não se transmudaram nos sonhos sonhados... A vida era um fardo, e ela tinha que lavá-lo impreterivelmente, dia após dia...

Tinha o sonho de comprar casa própria, colocar a neta na faculdade, pagar a prestação da geladeira nova, ter o que melhor de comer em casa, etc, etc..., sonhos de muitas Matildes que não viraram galinhas neste país de cão, seu maior orgulho, transmitido à neta como quem transmite a própria alma a um filho.

Seu cão Tonico roçava suas canelas ressequidas...

Assim dormiu sem querer, na cadeira de madeira deixada por seu pai, um rústico marceneiro, porém honesto e forte feito um tronco...

Às quatro da manhã, aproximadamente, bateram à porta. Matilde atendeu e era sua neta, sorridente demais, dizendo que jamais seria galinha, que ganharia dinheiro, que Mano Pic prometera isso a ela, sacando do bolso uma sacolinha cheia de pedrinhas enrolados em papel laminado..., que não eram preciosas, mas que faziam os olhos de sua neta brilhar inebriados...

Triste realidade cruel de um país que exclui os jovens, desprovidos financeiramente, do mercado de trabalho, e ainda por cima os condenam por isso, feito delinqüentes e escória da sociedade...

A humanidade é odiosa quando a gana por grana impera, e eu já não entendo mais nada!

Savok Onaitsirk para presidente desta porra de nação de ilusão!!

SAvok Onaitsirk, 15.03.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/03/2011
Código do texto: T2850254
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