Goiabada Cascão

A minha mãe contava com os filhos para fazer aqueles doces, verdadeiramente doces artesanais, para abastecer a nossa despensa.

Maria José da Silva – Maria José Duarte antes do casamento com meu pai – era profunda conhecedora da arte de cozinhar.

O seu nome já faz menção ao santo São José. Ela nasceu no dia do santo – 19 de março – dia da enchente das goiabas.

Lembro-me do bonde que pegava até o lugarejo, Galo. Ali as goiabas davam em abundância. Latas e mais latas de goiabas trazíamos para a nossa casa.

O tacho de cobre era limpo com limão vinagreira para que o zinabre fosse retirado totalmente.

Uma máquina de moer carne era utilizada para que moêssemos as goiabas, que logo após retirávamos seus caroços - era a goiabada tradicional.

Daquelas goiabas, que nossa mãe retirava as suas sementes e as deixava com as polpas in natura, o seu ponto era aguardado puxar um pouco mais para que sua consistência ficasse mais firme. Depois o doce era colocado em um caixote de frutas esterelizado e revestido com um papel impermeável, deixando sobressair cada cascão de causar desejo a qualquer um.

Enquanto saboreávamos aquele doce com pedaços de goiaba, da janela de nossa casa, no aniversário de nossa mãe e do santo São José, avistávamos a enchente carregando uma grande quantidade dessas frutas que boiavam sobre o espelho d’água simbolizando que eram as águas de março fechando o verão.