Vão em vida

Primeiro a força. A ficha cai. Depois, a fraqueza.

No impulso último se despede de sua propriedade. Parte-se em migalhas que pouco recordam o segundo anterior. A explosão fôra grande. Afinal, tudo poderia ser menor. Parca definição de silhuetas. Talvez estivesse em outra galáxia, nenhuma diferença faria. Reconheceu ao seu lado um velho abajur de lâmpada cega. Mais à frente, notou uma esfera de tristelento andar, que percorreu uma trajetória óbvia na mesa de pinball, até cair em algum vão e desaparecer. Sentiu um vazio. Não era fome, não era frio. Era como se ainda estivesse caindo, mas o mundo lhe parecia parado; era como se estivesse girando, mas o mundo lhe parecia quadrado. Tentou visualizar um ponto fixo específico, mas tudo se apresentou imóvel à mesma maneira. Fechou os olhos demoradamente, quem sabe estivesse sim num movimentado sono. Sentiu uma certa resistência ao tentar abri-los novamente, e quase sorriu pensando ser a luz do dia a lutar contra sua pupila dormente. Mas não. Olhos abertos, o que identificou foram os mesmos pesados traços de rara retidão. Aquilo o estava sufocando e era cada vez mais concreto e estreito. Até que um som veio lhe trazer outro suspiro, quando nem sentia soar as batidas de seu coração. Era uma marcha precisa, marcada em intervalos rigidamente iguais. Um relógio. O tempo, enfim, voltava a dar sinais. Ganhou calma e sentou-se sobre o que parecia ser uma pedra. Quem o visse diria se tratar de uma estátua, homem em reflexão, cotovelo sobre a perna, mão sob o queixo; quiçá até um filósofo. Em verdade, o único pensamento que tinha é que era estático: tudo era, afinal, uma questão de tempo. Desapareceu.

Rômulo Arbo
Enviado por Rômulo Arbo em 10/11/2006
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