Teoria e Prática: a vida.
Era um dia qualquer, nenhuma data especial, mas era um daqueles dias em que se amanhece sem vontade para fazer nada, só ficar pensando...
Levantei-me e depois de todo ritual que se faz para ir ao colégio, coisas do tipo: vestir o uniforme, tomar café apressadamente, pentear os cabelos, arrumar o material..enfim.
Cheguei ao colégio, sentei-me no lugar de sempre: perto da janela (que eu considerava minha) e agora via que o dia estava muito bonito, fazia um sol agradável, amigo, o céu estava limpo, azul, bem azul.
Comecei a pensar em tudo que já tinha acontecido na minha vida: os amigos que já não via, os amores antigos, tudo! Até o presente: a felicidade que já não tinha, a insegurança que sentia..tudo, absolutamente tudo.
Então a vontade de não fazer nada se tornou maior ainda.
Já estava derrotada, triste e nem ouvia mais a voz do professor de química que ia explicar sobre soluções...solução, era isso que eu precisava para minha vida.
As horas passavam, aulas de matemática e de vez em quando eu ouvia alguma coisa sobre prismas, cilindros, então começava a cantar mentalmente e repetidamente certas canções e já não ouvia mais nada só aquela música..o vento soprava em meu rosto.
Aula de física e aquela figura gorda, ríspida entrara na sala para começar a falar de física moderna, tentei prestar atenção, quem sabe entender alguma coisa, porém a súbita depressão já havia me vencido.
Riscava agora uns poemas. As horas passavam, as pessoas passavam e aquela multidão que (para mim) tornara minha sala, começara a me incomodar: eram vozes, risadas, já não estava concentrada: alguém veio me encher, perguntar se tudo estava bem...idiotas! eu não iria satisfazer às suas curiosidades.
As horas passavam, era a última aula do dia, agora quem aparecia era o professor de literatura, com o romantismo e o seu “mal do século”. Envolvi-me com o assunto, poetas cuja solução era morte...a morte, a tão temida morte, mas não para mim, pois ela poderia ser a minha amiga e até mesmo, como para os poetas, a minha fuga.
De repente um barulho! E todos correm para ver o que era. Alguns viam para minha janela, outros iam descendo as escadas para ver de perto o que havia acontecido. Eu não olhei, levantei-me e fiquei no corredor, uma das meninas da sala me diz que o cara do edifício ao lado havia se jogado, o comentário era de que ele estava triste, sofria depressão. Nesse momento esfriei, eu não era tão fraca assim e a morte vinda dessa maneira, vinda como fuga, se tornara cruel. Não era isso que eu queria pra mim.
Horrorizada com a notícia, voltei-me à janela e vi aquele corpo caído, ensangüentado. Mal podia acreditar.
No caminho para casa, acompanhada daquele sol impiedoso (já não era amigo), pensava naquele homem e já julgava que nada justificara aquele ato, nem a tristeza, nem a solidão.
Comecei a me sentir mais forte e que tudo podia ser bobagem da vida..No dia seguinte, ainda que abalada, acordei mais disposta pra vida. Não era aquilo que eu queria para mim.