“Erro de Tipo”.

Um ponto de luz refratária, um cinzeiro quebrado e um clipe estranho de Frank Zappa, numa tarde de céu todo azul, onde os ventos de outono fazem qualquer cidadão perder as estribeiras, um homem subia no telhado de uma residência no subúrbio carioca e investia contra a casa de outro homem...

Era um policial irresignado..., querendo pegar um suposto “delinqüente”, “questão de honra”, como dizia.

Sabia por fontes “fidedignas” que aquele cidadão consumia camarões todas as noites, escondido.

Seu pai, morto engasgado por um camarão, no almoço de 1982, em plena praia de Copacabana, fizera com que decidisse pela carreira de policial e que lutasse contra os “camarões”. Por sorte seu pai não morrera por um soldado do País Camarão, pois se assim fosse provavelmente escolheria a profissão de soldado ou homem bomba, para destruir aquele País.

Era uma luta inglória de um homem só contra um ideal deturpado, como um “erro de tipo” ao inverso e totalmente atípico.

Seus colegas não o acompanhavam em empreitadas assim. Quase todas eram em momentos de “folga”.

Depois de analisar anos o caso clínico motivou-se agora a subir o telhado daquele cidadão. Ao olhar para o céu, o sol e as nuvens se distorciam, tamanho calor e a insolação que havia contraído por horas na espreita.

Quebrou o telhado! O cheiro de camarão era tremendo. Provável flagrante, dizia para si num sorriso insano, transpirando e se limpando na manga do uniforme.

Caiu invadindo a casa, com a cara cheia de poeira, olhando para os lados e armado em punhos. Por via das dúvidas trouxe consigo sua PT 45 de estimação em Colt 45 que era de seu finado pai.

Para sua surpresa e alegria pegou logo o cara com a mão no camarão, fritando. Nem pensou, foi logo metendo bala, furando o cara na cara, bem furado!

Aproximou-se do corpo inerte e olhou para a frigideira e gritou:

“NÃO ERA CAMARÃO! Porra! O cara fritava manjubinha! E nem me atentei ao cheiro!”.

Um ponto de luz refratária, um cinzeiro quebrado e um clipe estranho de Frank Zappa, numa tarde de céu todo azul, onde os ventos de outono fazem qualquer cidadão perder as estribeiras...

Savok Onaitsirk, 19.04.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 20/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2920024
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