O Sol, o Homem, e a Pedra

O Sol, o Homem, e a Pedra

Um velho pastor aposentado, em uma de suas andanças, seguiu um caminho que ia dar no alto de uma das montanhas nos arredores de sua pequena vila.

No alto, avistou um homem, sentado em uma pedra em posição de lótus. Diante da visão nada comum, aproximou-se, um tanto curioso e questionou àquele estranho homem o que ele fazia em pleno sol de abril, época mais quente do ano, sentado numa rocha no topo de uma montanha.

- Velho homem – disse o eremita – Estou aqui há 12 longos anos, haja chuva ou sol, sentado todos os dias, desde os primeiros raios de Sol, até às últimas nuvens feitas de fogo, meditando, esperando ouvir do Deus Sol, qual o sentido da vida – fala erguendo suas mãos para o astro que queimava brasil no ponto mais alto do céu - Obcecado, larguei meu emprego, minha noiva e meus bens. Apenas saio desta pedra para dormir entre as brechas daquele rochedo, até a manhã seguinte, quando retorno a este ponto e torno a meditar, escutar, esperar.

O pastor que tinha terminado de acompanhar os dramáticos movimentos braçais do homem em sua pedra, agora passara a observar a pele duramente castigada pelo calor e pela falta de umidade. Depois de pensar por um curto momento no que acabara de ouvir, falou quase que em transe, de olhos fixos no grande vale à sua frente:

- Meu caro amigo... Sempre observei o Sol quando, ainda criança, brincava com outros meninos no centro da vila. Também, dava para vê-lo perfeitamente quando, andava por ai, a conhecer o mundo com as minhas queridas ovelhas. O Deus Sol, também se fazia presente quando, enchia de luz a face da mulher para qual fiz juras de amor, e o mesmo Sol, abençoou o nascimento de meus filhos e netos, que enchem meu lar de alegria. Ele é o mesmo Sol que seca as folhas da palma, que são a matéria prima para o meu trabalho, o que rende-me o suficiente para os meus e até para caridade. É o seu calor que também curte a carne da caça, que nos alimenta por semanas, e por fim, ilumina todos os meus caminhos, inclusive esse que me trouxe até aqui.

Uma lágrima, já gasta, caiu sobre a pedra dura.

Neste mesmo dia, um homem de barba e cabelos compridos, usando mantas rasgadas foi visto descendo a base da montanha, indo em direção ao pequeno vilarejo.

Nov 2006

Duke

Duke Webwriter
Enviado por Duke Webwriter em 18/11/2006
Reeditado em 10/01/2012
Código do texto: T294394
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