Cartas de Sangue do Incognoscível.

(Não tenha medo!).

No bar da rodoviária pediu uma lata de cerveja e pegou alguns guardanapos. Foi ao banheiro, urinou e pegou alguns pedaços de papel-higiênico. Virou a lata em dois goles e socou os papeis no bolso. Agora precisava achar uma pomba, mesmo que não fosse a da paz.

Conseguiu uma a pedradas, arrancou uma pena, furou o braço, sacou o bolo de guardanapos e papeis higiênicos que estavam amontoados no bolso e, com a pena e o sangue que saía de seu braço esquerdo, principiou a escrever...

Sentado no banco da rodoviária, escrevia sem parar, com o próprio sangue como tinta, enquanto alguns cochichavam e olhavam assustados.

Tinha uma passagem no bolso, uma passagem para uma cidade a qual sequer sabia que existia. Ficava há mil e duzentos quilômetros de onde estava, e pra lá e para além de lá resolvera viajar...

Há dois anos sua mulher o abandonara com os ratos. Quebrou todos os móveis de casa e fugiu com a vendedora de algodão-doce e a matou seis meses depois, sufocada na máquina de fazer algodão-doce. Algo que chocou a opinião pública e até os investigadores e peritos do caso. Mas não restaram provas contra si... Por fim, absolvido.

Pediu demissão do emprego e rumou para o mundo, com o FGTS como ponto final...

Transcorridos três anos alguns garotos que soltavam pipa num terreno baldio encontram uma garrafa de conhaque contendo alguma coisa. Eram anotações obscurecidas, no seguinte teor:

“Não gosto de ninguém! Não queria ter nascido! Jogaram-me nessa jogada sem graça à força! Nunca quis ser humano, homem, criança, cidadão, trabalhador, ter registro, código ou etiqueta! Não gosto nem de mim! Suporto-me a muito custo, há muito tempo!

Odeio o tempo, o vento, a paz e a miséria dos que se intitulam felizes! Sou um triste desde rebento, desde que me vi pela primeira vez como ser pensante! Estou mais morto que um cadáver, e me arrasto como um zumbi que sou!

Inteligência, razão, fé e esperança são palavras cunhadas para enganar...” (o complemento dos escritos estava ilegível).

Savok OnaitSirk, sexta feira, 13 de maio de 2.011.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 14/05/2011
Reeditado em 12/06/2013
Código do texto: T2969411
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.