O celular me despertou as seis da manhã ,como em todos os dias.
 Tava frio...
Os filhos foram pra escola,o marido foi para o trabalho.Ainda era cedo.
Decidi voltar pra cama.Acertei o celular pras sete e quinze e peguei no sono.
 De repente me vi num lindo pomar...
Estranhei quando olhei para o lado.Vi uma pessoa a qual gostava muito.
Então percebi que estava sonhando,já que esse homem,que sorria,bem ali do meu lado,já havia desencarnado alguns anos atrás...
 Me vi de novo na cama,tentei me levantar.Tive uma sensação estranha.
 Minha alma sentou ,mas meu corpo continuou deitado.Eu quis acordar.
 Ouvi o barulho lá fora.Os passarinhos ,o movimento rotineiro da rua...
 De novo aquele homem sorrindo pra mim.Tudo então escureceu.
Senti o peso de um saco de lixo preto amarrado pela boca.Mas estava quase vazio.Foi quando senti alguém empurrando minha cama,me levando pra algum lugar.
 Minha alma se virou e deixou aquele saco pra trás.Então vi quem me empurrava.Era ele.Pedro Leandro,sempre sorrindo.
 Não senti medo algum,embora entrasse escuro a dentro.
Me lembrei dos compromissos,então paramos.Tentei me sentar de novo e nada.Um estado de total estranheza.
 Não tinha dor,não tinha medo,não tinha nada.
Ausência de tristeza,ausência de felicidade,ausência de corpo.
Completo vazio.
 Então me aquietei.E esperei não sei o quê.
Apenas esperei.
 Senti meu gatinho vibrar,pedindo um carinho.
 Ouvi o beija flor cantando,pedindo água doce.Seu bebedouro estava vazio.
 Aos poucos fui sentindo meu corpo.
 Aos poucos me sentia viva.
 O celular então tocou.
 Me levantei e abri a janela,sentindo ainda aquela sensação de vazio.
Aquela ausência de sentimentos.
 Abaixei e cariciei o gato,senti o cheiro do café que havia feito antes de me deitar de novo.Senti o cheirinho dos meninos que haviam saído ainda a pouco... Suspirei aliviada e fui cuidar da vida.
 Foi apenas um sonho estranho.
 E quer saber?
 -Acho que a morte não me assusta.Mas tenho certeza de que amo muito minha vida.
... E aquele vazio, então foi passando.

Ana Maria Cristina
Enviado por Ana Maria Cristina em 03/06/2011
Reeditado em 03/06/2011
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