SORTE GRANDE!

José está na frente da televisão conferindo um jogo da mega sena.

Zero três...

- Opa! Acertei um!

Quarenta e sete...

- Hem? Acertei...

Quarenta e oito...

- Caramba! – e toma um copo de cerveja.

Quarenta e nove...

- Quarenta e nove? Puxa vida! Acertei mais um – e toma mais um copo da loirinha que desce ardendo pela garganta seca.

Cinquenta e três...

- O que?!!! – bebe no gargalo, olhos fixos no aparelho de televisão. A caneta tremula na canhota riscando o comprovante inadvertidamente.

Bigui, um vira-lata amigo, lambe o seu rosto sem que seja repreendido com o “sai pra lá, seu pulguento!” de sempre...

Sessenta!

José circula o número mágico quase rasgando o papel e, estupefato, começa a chamar pela esposa:

- Lurdes, Lurdes! Luuuuuuuuuuurrrrrrrrrdeeeeessssssssssssss!

Mas Lurdes está na casa da vizinha, e esta a avisa da gritaria.

- Seu marido está te chamando!

- Lurdes, Lurdes, LURDEEEEESSS!...

Lurdes ouve.

- Deixa eu ver o que o traste quer!

Passando pelo portão da casa da vizinha, ela ouve os esbaforidos berros do marido e sai correndo, pois alguma coisa estava acontecendo, pois ela nunca vira José a chamando com tamanha veemência.

José, ainda tenso no sofá, ouve um ruído de frenagem e, saindo do torpor dos últimos acontecimentos, vai à janela.

No meio da rua está Lurdes caída.

- Com a batida, só pode estar morta, coitada! - diz um transeunte que testemunhara o acontecimento.

José, recuperando sua lucidez, murmura consigo:

- Tomara que hoje seja o meu dia de sorte!