Um dia eu fui um cão; noutro, árvore.

Os caras estiveram aqui ontem. Bebemos algumas cervejas e conversamos sobre um pouco de descrença e ideologias de fim dos tempos. Na FM tocava uma música muito triste, de um tempo que não volta mais. Tudo vai embora um dia... Para um lugar desconhecido.

Confesso que não me lembro de muito coisa de minha última vida. Acho que, se rebuscar bem na mente, posso presumir que eu tenha sido algum tipo de animal, um cão, talvez, ou não; talvez tenha sido uma árvore cortada por um lenhador em 1.211 da Era Cristã. É taxativo, ou fui um ou outro, ou árvore ou cão. Gente tenho a certeza que não fui. Não me vem à mente a lembrança de ter pensado. Talvez, caso morra logo, que é o que pretendo, e se porventura ainda me derem mais outra vida, que seria fastidioso, também não me lembre que um dia fui gente. Nem sei se agora o sou. Talvez seja, como o "conto do sábio chines", um bicho sonhando ser gente, ou viva dentro de um pesadelo logo querendo acordar e tomar um copo d'água com aspirina.

Disseram por aí que o cantor mirim Justin é castrado, por isso sua vozinha bonitinha de menina sapeca; mas isso não vem ao caso. Aliás, nada vem ao caso agora.

Tenho o sonho de atravessar o mundo correndo. Sonho mesmo é atravessá-lo descalço, mas para isso não poderia ser correndo, senão o pé não aguenta. Tanto faz, descalço e andando ou correndo com tênis, tenho esse sonho. Mas não dá, tenho que trabalhar. Se tivesse um patrocínio juro que largaria tudo e iria, sem pestanejar...

Melhor ainda se o patrocínio fosse de uma marca de cerveja; iria bebendo todos os dias e dormindo em hoteis baratos de beira de estrada.

Minhas mãos estão tremendo e minha perna direita doendo...

Acho que vou desmaiar...

SAvok Onaitsirk, 24.06.11.