MALDITAS REMELAS, BENDITAS REMELAS.

A noite vinha cambaleando, um tanto tômbola, um tanto meretriz.

Parecia que se ressacava pagando seus pecados num copo de gim,

ou num tanque cheio de roupa pra lavar.

Suspirava pelos cotovelos, deixando suas ancas de molho,

morgava em si mesma, sofria. Padecia.

Depois de zumbir e zunir feito porca vadia,

depois de arrancar os passos tortos de quem fosse, tirou sua coroa

e foi dormir.

Passava das onze, diria pra quem teimasse em ouvir.

Aquele grito áspero deixou todo ar entupido, vadio, vazio.

Corri para a pia e afoguei nela cada falange do meu corpo,

cada amassado da camisa, cada quinhão de carne que resistia à fritura.

Dei um longo beijo vem mim mesmo e sorri.

Baixei as cortinas sem dizer grato, sem dizer nada.

Sai de casa colocando os medos pra fora,

aquela madrugada prometia grandes aventuras,

grandes desculpas.

Menti e alinhavei meus bordões numa carruagem só.

Nos abraçamos então e cantamos aquela marcha militar dos tempos

antigos, tempos moídos, tempo cariados diria.

Tempos menstruados, coalhados, desprezados.

O tempo estava rabugento, errando o tom, deixando o chão ressabiado, falido, estranhos pedaços de chão sem fim.

Morri. De novo, diria. Morri de novo, sabia. Morri de novo, temia.

As cordas do violão resistiam ao esticamento com bravata de barata.

Minha alma transbordando nos atalhos e remendos pediu trégua e foi prum canto qualquer se esquecer das coisas, sei lá.

Fomos sobretudo se benzer nas tetas pesadas da fé.

Fomos untar o nosso asco nas remelas mornas do medo.

Malditas remelas, diria. Benditas remelas, um dia.

Respirei fundo e não disse mais nada.

Pensando bem, pra quê?

Pra quê?

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 26/06/2011
Reeditado em 26/06/2011
Código do texto: T3057577
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